Pessoas mais analíticas, racionalistas e de bom juízo (não juíza ou censora) podem, de chofre, estar consentâneas com o que vou dizer. Quero me referir aos nossos hábitos alimentares. Datas festivas e aniversárias, celebrações trazem entre suas finalidades uma que passa ao largo de uma crítica positiva, não pela simples crítica, mas acima de tudo sobre o grau de insensatez, sandice ou até morbidez nos nossos costumes culinários e digestórios. Propositalmente empreguei o pronome nossos. Porque nesses gestos e expedientes me incluo. Trata-se de questão cultural, tradição familiar, impulso de seguir o outro, a manada (humana).
Dentre essas datas comemorativas, os aniversários, casamento, inaugurações, etc, nenhuma torna-se tão emblemática como o Natal e Ano Novo. Já busquei muitas fontes sobre o porquê de as pessoas, em especial, as de tradição cristã, investirem tanta energia, esforços, gastos, suor, fadiga, fornos, dinheiro, mesas, decoração dos alimentos, temperos estimulantes do paladar e da sanha de comer. Justamente em uma data que celebra o aniversário de uma Divindade, Jesus, o Cristo (filho de Deus).
Porque não se encontra qualquer fonte, alguma bula, diretriz, indicação religiosa, doutrinária, filosofia; nem uma que prescreva esse comer desbragadamente, a la pantagruel ou ao estilo do gargântua (qv, obra de François Rabelais). Por isso, desafio qualquer leitor (a) aqui, se achar essa receita mande-me como obséquio.
Fosse apenas o comer despudoradamente, impudicamente, irracionalmente; fosse só isso, vá lá. Seria menos questionável. Não! As pessoas vão muito além. Esse que aqui vos escreve é testemunha ocular, de compartilhar esses momentos, oportunidade em que numa apuração realística e sem rodeios, se reveste da mais legítima e genuína expressão de insanidade mental. Muitos convivas e comensais de uma ceia de Natal, parecem em retrospecção aos instintos da função cognitiva e cerebral reptiliana (queiram ler sobre).
São hábitos insanos e sandeus dessa paranoia pela ingestão prazenteira, instintiva, orgástica e desbragada de leitoas, perus, vacas, galinha, massas, frituras, farofas etc.; Existe mais que comidas para se repimpar e refestelar. Existem as libações de toda ordem: são os licores, as cervejas, os vinhos, Coca-Cola. Este suco de caramelo e conservantes e nada de nutritivo leva os bebedores à dependência, igualzinho nicotina e à cocaína. As pessoas, os convivas e comensais comem e bebem como se fossem o último dia de suas vidas. Pior que alguns acertam porque morrem de pancreatite, de colecistite, de infecção enteral e intoxicação, de embriaguez alimentar. Esse escriba e escriturário que vos fala é testemunha assistencial, de casos do gênero. Indivíduos que no dia seguinte à ceia de natal, foram levados ao PS e morreram de comer e beber. O alimento que nutre também adoece e mata!
E para concluir, reitera o quanto nós humanos (onde incluo-me) somos animais de rebanho, de manada (assim, proferiu Nietzsche) de maria-vai-com-as-outras. Ao gesto e gáudio ou patuscada de um comilão seguimos as suas orgias, não importa com que finalidade. Assim, se dá no que temos de rasteiro e primitivo.
Uma outra mostra evidente e contundente de nossa insanidade: as tais injeções e comprimidos para perda de peso e abolir o apetite. A cada sessão de injeção nosso apetite e fome são desafiados. Vem a eficácia pneumática, baixa o pneu, calibra-o! diz o apetite; de novo nos repimpamos de vaca, arroz, massas, carnes, sobremesas, manjares. Mais caras injeções para emagrecer, engodo, isca, enganação. Efeito rebanho. A indústria, os laboratórios nos incitam, os médicos prescrevem. Círculo vicioso, insanidade, bestialidade, cérebro reptiliano. Oh céus! Oh vida! Oh azar! Leãozinho interior, Hiena voraz e predadora!