Eu começo este artigo relembrando Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1979), com sua obra bem conhecida da História e da Sociologia, Raízes do Brasil, e subtítulo “homem Cordial, publicada em 1936. No livro, Hollanda, disserta sobre a contribuição do homem brasileiro para a humanidade global. Descreve-o como expansivo, amistoso, generoso, solidário, afetuoso, que gosta de ligações de amizades com os outros.
“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o homem cordial” Raízes do Brasil – página 176. Sérgio Buarque chega a comparar o brasileiro com o japonês, homem polido, cortes versus o homem do brasil, emotivo, improvisador, intempestivo. Olha bem!
Atenção mesmo! Há quem interprete esse atributo cordial como emocional, reacional, cordial de intempestivo e paixão (pathos, patológico, para lembrar). Analisando o que era a sociedade do período colonial e a de hoje, sugere o cordial, não ser nada muito amistoso, generoso, cordato e solidário. Que o digam as estatísticas de violência, de crimes contra a vida, os mutilados e mortos de trânsito, feminicídios etc.;
Quando se analisa uma guerra, suas justificativas, o discurso dos dois lados, na maioria dos casos, percebe-se o quanto de violência existe na natureza humana. É mais um indicativo desse sentimento destrutivo e predador de sua própria espécie. Excetuando territorialidade, competição por fêmeas, poucas espécies animais eliminam outros indivíduos da mesma espécie, condição inerente ao homem. Nesses termos e com esse entendimento, tomem-se os discursos dos chefes de estado de Israel e do Hamas: desejo e ambição incontida de destruição do outro. Israel destruir Hamas/palestinos, Hamas eliminar o estado judeu.
Na obra Leviatã, de Thomas Hobbes (1588-1679), o autor descreve o homem em estado de natureza. Vem do livro a frase “o homem lobo do homem”. Uma bela metáfora para descrever a natureza predadora, hostil e violenta do homem. Hobbes foi um dos autores contratualistas (Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau), defesa da criação do Estado, de leis, regimentos, sistema de normas de direitos e deveres, como forma de organização e hierarquia social. Faz todo sentido, imagine o mundo sem leis, em estado de natureza.
Estados de Psicologia, Sociologia e Psiquiatria, nos remetem às teses de Sigmund Freud (1856-1939), sobre as pulsões de morte e de vida, próprias dos humanos. E nessas pulsões podem estar até o mecanismo do suicídio, da autodestruição e do instinto da violência e execução do outro, morte por motivos fúteis, feminicídios etc.
Em síntese, as estatísticas de violência no Brasil, os feminicidios, as teorias do Leviatã, do homem cordial, das pulsões de Freud, mostram muitos nexos e mecanismos similares. O homem lobo do homem, significando egoísmo e autopreservação à custa de eliminação do outro. Homicídios, guerras; são mostras contundentes e convincentes dessas teses.