Alimentos e smartphones como antidepressivos

 

Em uma pesquisa recente, pesquisa essa baseada no que mais vende em datas festivas como Natal e Ano Novo, não é difícil adivinhar quais foram os itens mais comprados, os mais desejosos dos consumidores. Exato isso: dos chamados top 10, os objetos mais pedidos foram os digitais, encabeçados pelos smartphones. Tablet, notebook, Ipad, etc. Trata-se de uma estatística abarcando todas as faixas etárias. Caso selecione por faixas etárias, tomando apenas adolescentes e jovens, os top 10 seriam exclusivos desses objetos portáteis, os smartphones.

Assim como comida e alimentos apetitosos, os objetos de mídias como os aparelhos celulares, passaram a ter uma outra função na vida da maioria dos jovens. E mesmo adultos, passados dos 50 que se tornaram adictos, dependentes, viciados e possuídos pelos seus apetrechos digitais, os celulares. Ninguém anda um quarteirão, ninguém vai à igreja, a um parque, à padaria, a uma reunião festiva sem os adesivos celulares. Fazem parte da anatomia.

Em se tratando dos alimentos como outra função. A pessoa não detém essa noção, dessa função falemos agora, dos alimentos como sedativos e antídotos de ansiedade. Assim o dizem as Ciências, e a Psicologia Positiva. Com o advento facilitado e quase grátis de comunicação em tempo real, instantânea, os ramos científicos despertaram e passaram a tratar desta questão, o gesto ou ritual (desmedido e pantagruelicamente) da alimentação e beberagem como formas terapêuticas, o combate à ansiedade, à depressão. Sentar à mesa de comer, postar diante de um bufê é uma forma de psicoterapia. As pessoas não se alimentam, elas mitigam, aliviam, sedam suas dores da alma.

É o mecanismo já compreendido de compensação da frustração, da tristeza, do abatimento físico e psíquico através de alimentos de toda ordem. Carnes, churrascos, rodízios, vaca, frango, pizzas, massas, doces. Cervejas, refrigerantes. No íntimo e no recôndito humano todas as bebidas são ingeridas,  à exaustão como refrigérios dos padecimentos físico e da alma. Como foi bem pensado pela indústria de bebidas, este nome, refrigerante, o que refrigera e esfria e acalma as dores da existência. Dissimuladamente todas as bebidas trazem embutida essa finalidade, efeitos sedativos e ansiolíticos. São analgésicos dos sofrimentos sociais, de relações mal resolvidas, dos fracassos de toda ordem e gênero.  

Com a mesma eficácia e numa estratégica disfunção de finalidade vieram os objetos digitais. Os smartphones, na verdade minicomputadores, porque já se desviaram maciçamente da função de telefonia móvel. Esses aparelhos, maiores desejos de consumo, exercem as funções do permanente estado online. Os usuários portam-nos como uma extensão da anatomia corporal. Eles se passam como próteses, apêndices do corpo. Ninguém consegue se desapegar e desligar os aparelhos. Deixe eu ir no banheiro! Oh, meu celular, ia esquecendo!

Assim como os alimentos, os doces, os chocolates, os celulares vêm exercendo esses efeitos antidepressivos, ansiolíticos, analgésicos das dores existenciais. Tanto é verdade que progressivamente vieram as doenças decorrentes do desmesurado e irracional apego. São dois vícios, duas adicções que se tornaram danosas, nocivas, tóxicas, lesivas à saúde emocional, psíquica, de relações humanas. Nomofobia, fomofobia, entre outras classificações. Já constantes do DSM-V americano, o catálogo e classificação internacional das doenças mentais, as desadaptações sociais e afetivas.

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