Entre os cuidados com a saúde, muitos são aqueles tratamentos com suas características de sucesso ou fracasso. E nessa natureza do êxito ou não ao prescrito pelos profissionais, uma participação do paciente se chama adesão ao tratamento. De forma prática e sumária, o que vem a ser o comportamento de adesão? É a predisposição e desejo do paciente em assimilar, cooperar e seguir fielmente as recomendações, a terapêutica proposta, os medicamentos prescritos, a mudança de atitudes no chamado estilo ou hábitos de vida, o cumprimento de horários para a prática terapêutica, dieta, os exercícios recomendados, a fisioterapia, as sessões psicoterápicas, entre outros compromissos com o tratamento.
Nesse artigo falemos das práticas
terapêuticas mais comuns, para ilustração de matéria. A terapêutica mais
encontrada onde se aplica a adesão do paciente é o uso de medicamentos. Quantas
não são as pessoas que não seguem corretamente a prescrição dos medicamentos
feitas pelos médicos? Milhares. A doença
mais maltratada, subtratada e não tratada é a hipertensão arterial. E porquê
dessa não adesão correta ao tratamento? Primeiro porque ela não dói, não traz
falta de ar ou fadiga, não tira o sono, não gera impotência sexual ou frigidez.
Esses dois itens fariam o paciente tomar melhor os remédios, mas a hipertensão
é uma doença silenciosa, assassina silenciosa porque, na surdina, ela vai
corroendo os órgãos vitais da pessoa (coração, rins, cérebro).
A segunda morbidade mais difícil de
se tratar se chama sedentarismo. Porque também não dói, não gera impotência
sexual nem frigidez feminina. E atividade física e privação de alimentos
cheirosos, capitosos e saborosos não são atitudes a que a maioria das pessoas
está disposta a tais sacrifícios. O
prazer, o gozo e a satisfação gustativa
constituem uma das “formas de felicidade da humanidade”. Leia sobre
epicurismo e hedonismo, a propósito de prazer e felicidade. (Filosofia de
Epicuro sobre o prazer).
Uma outra forma de terapêutica
nem sempre com eficácia alta e curativa são as psicoterapias. E façamos aqui
algumas considerações a respeito. Muitos distúrbios trazem suas raízes na
formação e construção educacional do indivíduo. Na origem da palavra, dis,
prefixo de intensidade e turbare, confundir, perturbar, inquietar,
desorganizar. Muitas das doenças mentais, a ansiedade, a depressão, têm suas
raízes no formato da criação e educação dessa criança, desse adolescente e jovem.
São exemplos os indivíduos que foram primariamente e predominantemente
crescidos e engordados (amadurecidos fisicamente) com muitos mimos, regalias,
poucos limites de ética e convivência. Quando adultos, eles enfrentam as regras
e exigências de madurez da idade. No íntimo e instinto animal, querem continuar
adolescentes. E então haja depressão, haja desadaptação social e ao trabalho.
Sobram então as tentativas dos terapeutas, dos psicólogos, dos antidepressivos
e antipsicóticos. Muito fracasso. É natural.
Por último uma forma terapêutica
da pior adesão no planeta se chama dietoterapia. Porque a palavra em si lembra
o que? Restrição, regime, proibição, privação. O consulente já sai de casa para
ir ao nutricionista (médico ou não ) com esse sentimento negativo, com a
certeza de que seus hábitos serão contrariados, proibidos, alterados. E aqui
façamos também algumas considerações sobre os termos empregados (eufemismo,
minimização) entre a realidade e a concepção de pessoa assistida e o próprio
profissional. A maioria das pessoas desses consultórios não está obesa, a
maioria é obesa e morrerá obesa. Existe uma enorme diferença entre ser e estar.
A doença é multifatorial, familiar por herança genética e comportamental. Por
isso a maioria incurável da condição. Existir e ser difere de estar acima do
peso normal.
Observem essa cena repetida e
muita deparada: o homem ou mulher resolve que precisa perder peso. Muitos já
não fazem adesão à prática continuada de atividades físicas. Razões variadas,
falta tempo, insegurança de fazer caminhadas com chuva e no escuro. Então há o
recurso do nutricionista. Vão às consultas, entrevista, balança (ai balança
mentirosa!). “Acho que estou meio inchado, doutor”! O profissional diz: você
está com retenção hidrossalina! Vamos usar um diurético! E usa mesmo, perde
água e até peso temporário, porque desidrata a pessoa. Vem a dieta, uma lista do chamado “pode e não
pode”, com moderação e livre, e
proibido. E a pesagem dos alimentos, compra de balancinha de precisão, dosagem,
tamanho dos bifes, dos pães, das massas etc etc. Essa adesão costuma durar 3 semanas, um mês. Depois,
adeus dieta!
A maioria fracassa, porque os
instintos, o prazer gustativo, o prazer e a felicidade que descem pela boca são
imperativos e eternos vermes interiores que coçam e cobram sua cota de
participação. É como aquele mito de rolar uma pedra montanha acima (dieta) e
despencar e começar de novo, de novo, de novo. Desadaptação à prescrição, não
adesão, fracasso, nova consulta, fórmulas para obesidade, eterna obesidade, ser
obeso. E assim sobrevivem os não adesistas às terapêuticas e, assim, fazem sucesso
os médicos e nutricionistas. Ufa! Que fadiga!