Há gente que gosta de problemas

 Já foi dito em outros artigos e ensaios, e nunca é demais repetir, que existem pessoas que parecem gostar de procurar problemas. Ou, dito de outra forma, o caminho mais sofrível, o mais laborioso, o mais difícil e tormentoso. Fala-se dos objetivos de vida ou escolhas em tudo na árdua missão de viver. Justamente isto. Porque conforme expressou um dia João Guimarães Rosa (Cordisburgo MG 1908-1967), “Viver é perigoso”. A vida não anda fácil, notadamente depois de três tragédias que ainda vive o brasileiro: a da pandemia da covid 19, a econômica e a de desgoverno. Há cálculos de que o Brasil nunca passou tanto sufoco como o que se passou nesse período, iniciando lá em 31 de dezembro de 2019, pandemia da covid 19. Como para muitos desgraça pouca é bobagem, aí vieram as crises de economia e de governança.

Existem pessoas que sugerem gostar daquela premissa, já que as coisas andam e desandam com tanta dificuldade, com tanto labor, sofrimento, privações, carência disto e daquilo, por que não arrumar mais tormentos e privações? Basta fazer uma detida análise das decisões que tomam as pessoas, sem um planejamento, sem projeção do que que pode advir de certos negócios, aquisições, compras de muitos objetos, utensílios e supérfluos.

Porque deveria haver essa previsão, essa paciente reflexão. Tal atitude e expediente valem para um sem-número de opções, de aceitação de propostas, de consentimento em entrar em determinados negócios, sociedades, aquisições, compras e compromissos os mais variados. Ainda que essa concordância ou anuência não exija dispêndio monetário, material, de esforço físico ou ocupação mental e intelectual.

Existe um princípio importantíssimo antes de qualquer decisão, que é a relação custo/benefício em toda tomada de decisão e aceitação. Custo aqui não necessariamente em valores monetários ou material, mas sobretudo o custo pessoal, emocional, intelectual, psicológico, moral, social. Quando esse custo começa por desembolso ou investimento de dinheiro e material, ele então se reveste de maior relevo, porque devemos prever e provisionar esses recursos na evolução daquela decisão. Dinheiro e bens não andam fácil de se adquirir!

Mais que teorizar e ideias aqui postas são os exemplos mais recorrentes na vida das pessoas. E pode-se começar pela adesão a um cartão de crédito. Existem um enorme engodo e armadilhas nessa transação de crédito. Quando me adiro a um cartão, inicia-se pela anuidade e juros. Os juros são escorchantes e desumanos e sem perdão pelos bancos e financeiras. Mesmo que sejamos bons pagadores e adimplentes, há o atrativo de comprar sem controle, porque não se vendo o dinheiro, porque ele é virtual, não sinto doer no bolso imediatamente. E vou comprando, comprando. Ledo e ingênuo engodo e engano, porque a fatura virá e será descontada em conta corrente ou boletos a pagar. Se houver atraso o devedor é inscrito nos órgãos restritivos de crédito, Serasa, spc, até na dívida ativa, conforme o órgão financeiro.

E nesse cardápio são compromissos, aquisições, adesões, associações, compras, vínculos sociais e até afetivos. E  as pessoas vão criando uma série de obrigações, trabalhos diários, cumprimento de uma rotina estressante, laboriosa,  enervante, sofrível, restritiva até de certas liberdades e outras dedicações pessoais. Olhem bem esses outros ofícios: são os pets que emporcalham todos os dias a casa e há de se limpar; aquele carro comprado em intermináveis prestações que nunca se acabam; e muito comum, os relacionamentos tranqueiras e desgastantes que roem e corroem as economias da pessoa, quando não se tornam um verdadeiro inferno para o outro (a). Aja problema, hein. Enfim, como há gente que gosta de complicar a vida e as coisas.

 

    

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