A Família como fábrica de maus cidadãos

 Todos os estudos sérios e ensaios bem conduzidos mostram e provam o quanto a pessoa humana é o produto bem ou mal-acabado do meio social. Seja esse meio específico (família por exemplo) ou geral. É a família com todos os seus atributos e legados moldando o sujeito. Vários pensadores, cientistas sociais, sociólogos vão na mesma direção e convergência em apontar o quanto a sociedade é a forja, a fabricante social da pessoa, responsável pela sua formatação e organização ética, social, moral e cidadã.

Quais são os segmentos sociais mais determinantes na produção do ser humano como um sujeito qualificado, cidadão, laboral, produtivo, autônomo e independente? Estudos e pesquisas falam em uníssono: a família. Nas sábias palavras do jurista e pensador Rui Barbosa, “a família é a célula mater da sociedade”. Um outro sábio provérbio assevera: “dize-me que são os seus pais e dir-te-ei o que és e o que serás”. E este: Dize-me com quem andas e te direi quem és.

Em se falando de sábios e pensadores, busquemos as teorias de o filósofo Aristóteles, do quanto a família com a educação aplicada, ensinada e treinada é decisiva na constituição social, moral, civilizatória e intelectual do indivíduo. Aristóteles dava tamanha importância à educação familiar que ele, Aristóteles, escreveu uma magnifica obra dedicada ao próprio filho, Nicômaco. Título deste livro: Ética a Nicômaco; uma referência moral e ética para uma vida bem vivida, pautada pela civilidade, cidadania e honestidade. Trata-se de um código moral atemporal, representa modelo do que deve ser a educação do indivíduo desde a infância.

Nessa temática e substancial questão da influência da sociedade na formação e finalização do sujeito, existem questões curiosas e instigantes. Referem-se estas à aptidão, à inclinação ou susceptibilidade do ser humano em aprender e se interessar por abstrações e conteúdos negativos, destrutivos e nocivos, fora dos padrões de ética e civilidade. E não importa a idade da pessoa; se for criança e jovem torna-se mais grave, porque a pessoa está em fase de maturação social, moral e ética. Trata-se de uma característica de nós humanos que intriga as Ciências. Por que o ser humano tem atração pelo negativo, pelo feio e proibido?

Esta característica da mente humana, da psique do indivíduo no interesse e gosto por conteúdos e culturas negativas se reveste de muita influência na formação da criança, do adolescente e jovem. Porque são faixas etárias em processo de diferenciação e maturação psíquica, emocional, ética, social e intelectual. A maturidade neurológica e psíquica plena da pessoa se faz em torno de 25 anos de idade. A mente e função cerebral têm enorme plasticidade nas crianças, adolescentes e jovens. São mentes e intelectos ávidos por informações e conhecimento do mundo e meio social. vêm desses conhecimentos o significado do meio social, da família, na formação social, moral e ética do indivíduo. Aprendeu certo e no padrão social e civilizatório, aprendido está para toda a vida. Aprendeu torto e enviesado, torto e enviesado será para sempre. Vem desse conceito o provérbio: Pau que nasce torto morre torto. Parodiando, filho de pai torto traz a sina de torto ser para sempre.

O franco-suíço Jean-Jacques Rousseau na sua magnifica teoria do bom selvagem afirma: todo homem nasce bom a sociedade é que o corrompe”. Acresce a esse postulado de Rousseau o conhecimento empírico de que a pessoa resulta de dois legados ou heranças: uma genética e outra social familiar. O legado hereditário familiar é tão relevante que ele é capaz de modificar até a influência genômica, através da educação, da instrução, do treinamento e formação escolar e intelectual da pessoa. São provas consistentes, irrefutáveis.

Ao trazer esses conhecimentos sociais, psicológicos e neuro-científicos para esse artigo, tem o texto um caráter prático e tradutor do comportamento, da conduta e rotina de vida de muitas pessoas de nosso convívio, de nossos condomínios, de nossos ambientes de trabalho, de nossas relações sociais “lato sensu”.

Um resumo prático é este: nunca se pode exigir de uma pessoa mais do que ela pode nos oferecer. A aptidão de cada um, sua autonomia ou eterna dependência emocional e social, sua incapacidade ou dificuldade de boas relações; todos esses entraves e disfunções de convivência têm raízes no padrão e estilo cultural, moral e intelectual dos pais. É a família, esse microcosmo social e humano, como determinante no modo certo, honesto, ético de viver. Ou ao contrário, a depender de educação recebida, no jeitinho dependente, canhestro e coitadinho de ajuda das pessoas e entidades do entorno domiciliar. Ou se fará (pela criação) um cidadão produtivo, honesto, independente ou um coitadinho, frágil, incapaz, dependente do Estado e de família para sempre.

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