OS DIAGNÓSTICOS E SUAS CONVENIÊNCIAS

Quando se fala em saúde ou sanidade mental é muito curioso e interessante como se dá essa aceitação ou esta interpretação pelo próprio paciente e pelos familiares mais íntimos. Pode-se até alargar mais esses diagnósticos, no que concerne ao prognóstico e estigma que muitas doenças trazem. No estrito campo de saúde mental ou psiquiátrica, há aquela tendência de o paciente ou família mascarar, buscar algum eufemismo ou se omitir ou adiar ao máximo os diagnósticos corretos. Porque de fato e concretamente, existem o preconceito social, a discriminação, a evitação daquela pessoa com os sintomas de doença mental. Imagine! Um filho, um irmão, um pai ou mãe doente mental!

Vamos tomar o exemplo de um adolescente ou jovem com os sintomas de uma forma de esquizofrenia. Em uma analogia simples, tome-se o diagnóstico em tempos antigos do mal de Hansen (“o nome estigmatizante e proscrito era lepra); havia nesses idos e retrógrados tempos os chamados leprosários, clinicas de isolamento dos acometidos do mal de Hansen. Hoje, se sabe, tratar de doença plenamente curável, e muito pouco contagiosa.  Atualmente, o indivíduo com o diagnóstico de esquizofrenia está condenado a rejeição: começa-se pela família, que minimiza e adia ao máximo a aceitação do diagnóstico; depois a sociedade, empresas e grupos sociais ou de trabalho.

Há poucos dias, refiro ao um caso de um jovem, levado ao meu consultório, por uma irmã médica. O motivo era a prescrição dos medicamentos antipsicóticos (quatro ao todo) porque o psiquiatra assistente estava de férias. Na anamnese, qualquer médico de média experiência tinha a nítida noção do diagnóstico de esquizofrenia, até pelos fármacos psicotrópicos em uso. Entretanto, paciente e acompanhante juravam de pés juntos de ser transtorno bipolar. Uma intenção cristalina de minimização ou abrandar o estigma do diagnóstico correto, esquizofrenia.

E temos um outro contexto, no trato com doenças cujo diagnóstico traz significados pejorativos, ruins e maiores riscos e cuidados ou mesmo limitações físicas, civis e sociais. Que sejam doenças mentais, neurais ou orgânicas. Citemos dois cenários bem encontradiços. Quando é para a pessoa receber algum benefício, da previdência social ou seguro de vida, de saúde. Não importa o estigma que esse diagnóstico traga, a pessoa beneficiada fala alto e em bom som de seu estado mórbido. Não obsta a essa publicidade. Lembra-me o ditado: “se pagar bem que mal tem”!

Outro cenário muito frequente da pronta e absoluta aceitação dos diagnósticos, não importa do quanto de mau agouro ou rejeição tenha a doença. Quando se trata dos condenados pela Justiça, e a pessoa vai para a cadeia. Pode ser a doença mais debilitante e de absoluta rejeição social ou riscos de morte. O exemplo chegadinho de fresco é o do condenado, ex ministro do Gabinete de Segurança Institucional, do ex presidente e também condenado Jair Bolsonaro. Trata-se do general Augusto Heleno. Bastou esse ex ministro do GSI, ir para a prisão, que de imediato surgiu-lhe um diagnóstico, de uma das mais perversas doenças neurológicas, mal de Alzheimer.

Nesse exemplo do ex ministro e general Heleno, foi curiosa e instigante a arrumação. Porque, de começo a doença teve início em 2018, antes de sua posse no GSI. Veio o espanto público. Mas, como com demência grave! Se ele era ministro de pasta tão complexa! Segurança institucional! Não há de quê! Houve um equívoco, ponderou a equipe de advogados do agora paciente, general Augusto Heleno. Erramos, a doença surgiu, no final de seu mandato, 2024. Ele foi ministro de Bolsonaro de 2019 a 2022. All right! No reino dos humanos, tudo é possível! E não é que foi concedido o beneplácito. Sr Heleno cumpre a pena em prisão domiciliar. Justiça!

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