A sociedade global tem assistido a uma pandemia da chamada estética corporal. São levas e levas de gente que tudo fazem e investem na mudança da imagem corporal, da anatomia, da aparência física, a começar pelo rosto. Nesse rebanho de consumidores ninguém se encontra satisfeito com o corpo com que nasceu, com o rosto, com os glúteos, com o abdome adquirido e engordado, com os lábios, nariz, pescoço, sobrancelhas, orelhas. Há que mudar tudo; o invólucro todo. Não fosse complexo até a pele inteira seria substituída, porque para remendo e mudança de tom e cor existem as tatuagens.
A neura, a obsessão atingiu grau tão desmedido e inaudito que há gente trocando as cores dos olhos. Nem se fala dessa mudança de cor através de lentes coloridas, porque estas já se empregam há muito tempo. Não. Há gente repigmentando córneas e conjuntivas. Com iminentes riscos de lesões oculares, perda de visão e sequelas irreparáveis. Essa busca frenética e compulsiva por alterações anatômicas, enxertos, silicones, PMMA, botox, cortes, retalhos, transplantes, lipoaspirações, abdominoplastias, próteses mamárias e de outros segmentos corporais. Todos esses procedimentos vêm gerando uma outra questão de saúde pública. As complicações dos procedimentos. Infecções, cicatrizes irreparáveis, perdas funcionais e mortes. Muitas mortes.
Quando a questão é cirurgia plástica, há que se fazer uma classificação, para melhor compreensão desse expediente e tratamento cirúrgico. A especialidade de plásticas foca em duas indicações fundamentais. Existe a cirurgia plástica funcional e a cirurgia plástica estética. E vem os exemplos. A plástica funcional vai reparar funções e deformidades. Como exemplos cicatrizes deformantes, um crescimento anatômico disfuncional como orelhas em abano, herniações pós-operatórias, mamas gigantes que geram desconforto torácico e dor de coluna lombar, tumores benignos como lipomas e cisto sebáceos gigantes e outras tumorações cutâneas.
A Plástica estética refere-se à satisfação subjetiva de mudança anatômica corporal. Como exemplo os enxertos, as próteses de mamas, de glúteos, de lábios, de face e outros segmentos anatômicos. Aqui não se cuida de correção funcional e sim exclusivamente estética. E este é o segmento de procedimentos os mais vistos. Existe um predomínio da busca por esses recursos. Trata-se de uma indicação subjetiva de pacientes insatisfeitos com o corpo e partes dessa anatomia.
Em se comentando dos riscos desses procedimentos. São muitos. Os fatores envolvidos que propiciam as complicações; grosso modo, leva-se em conta a saúde dos pacientes, a pessoa a ser exposta a esses procedimentos. O tempo da anestesia e procedimento. Mais horas de anestesia e cirurgia mais riscos de arritmia, infarto, tromboses e parada cardiorrespiratória. Outros itens determinantes nos riscos dos procedimentos: a qualificação profissional do cirurgião, o anestesista, o hospital da internação, e o preparo pré-operatório; incluindo o chamado risco pré-anestésico-cirúrgico, onde vai se avaliar o grau desse risco, se baixo, moderado ou alto ou até proibitivo. E as medidas profiláticas dessas complicações e morte intra-operatória.
João Joaquim – médico cardiologista – especialista em risco anestésico- cirúrgico.