História de Devoção - penitências – autoflagelação

A devoção ao Divino Pai Eterno em Trindade-GO, vem do século XIX (1840). A história narra que, por volta de 1840, o casal Constantino Xavier e Ana Rosa encontraram um medalhão de barro, de aproximadamente 8 cm, com a estampa da Santíssima Trindade – Pai, Filho e o Espírito Santo – coroando Nossa Senhora. Beijaram eles a Imagem, levaram-na para casa e a notícia rapidamente se espalhou, juntamente com uma sucessão de milagres.

Em celebração de devoção de quase 2 séculos, os Missionários Redentoristas por meio da contribuição dos fiéis trouxeram da Polônia para a Nova Casa do Pai Eterno/Basílica de Trindade, o Sino Vox Patris e seus dois sinos menores denominados São João e São Lucas. Calcula-se que esses sinos orçaram em cerca 10 milhões de dólares (U$ 10 mi). Fica a pergunta: Será que Deus, Jesus e Santa Maria (mãe de Jesus) se sentirão mais dignificados com essa montanha de dinheiro, gasta em sinos? Não seria mais generoso, humano e divina ação mitigar a fome, dar moradia e assistência social e médica a muitos fiéis e necessitados com esse dinheiro? Valor que segundo nos informam os dirigentes do Santuário Pai Eterno, foram doações? São apenas perguntas que se fazem! Apenas perguntas para reflexão silenciosa de todos.

Abstraindo aqui desse gigantesco investimento, em sinos para Essa Basílica/Santuário Pai Eterno da cidade de Trindade-GO. Falemos desse fenômeno da devoção, do sentimento místico e religioso de fieis, e tomem-se esses eventos anuais, tanto na Cidade de Aparecida SP, como em Trindade Go. O registro que se faz dessas pessoas em suas penitências, em seus sacrifícios. Vamos refletir mais. O termo/sacrifício já diz muito, os sacros ofícios, ou santos/sacros esforços, fadigas, humilhações físicas e psíquicas.

Todo esforço, renúncia ao conforto de mobilidade, porque se vê pessoas idosas e debilitadas em absoluto sofrimento físico e orgânico nas marchas e caminhadas até a cidade de Trindade. Toda essa autoflagelação com um único objetivo, a paga, a retribuição, a expressão de gratidão por algum milagre recebido, a cura de uma doença, a obtenção de um benefício físico e material, um bem, uma aquisição, um sucesso profissional e material. Um êxito conjugal, o nascimento de uma criança em gravidez de risco. O bom resultado de alguma cirurgia ou tratamento curativo de um câncer etc.

Façamos juntos, eu/leitor e leitora, a seguinte reflexão que penso em uníssono. Deus é um ser criador de todo esse universo. Onisciente e onipotente. Dotado de absoluta bondade, generoso e perdoador. Nenhuma bondade ou generosidade se compara à bondade e benevolência de Deus, artífice e criador do homem e da mulher. Somos criaturas, filhos de Deus. É de supor que qualquer pessoa bem pensante traz essa concepção de Deus.

Vamos fazer um paralelo simplista para melhor compreensão. Tomar um pai ou mãe como modelo. Será que um pai ou mãe, de sentimentos e saúde mental e psíquica normais, se sentiria bem, em fazer um bem ao filho, e exigir dele um sacrifício, uma penitência, uma humilhação, uma carência extrema, uma autoflagelação como prova de sua gratidão ou paga, uma espécie de moeda de troca pelo bem recebido? Convincentemente não o faria, considerando o pai e mãe como pessoas normais, moral e mentalmente. Porque se o fizessem, seria um pai ou mãe de sentimento sádico, que se compraz com o sofrimento alheio, com privações físicas e psíquicas de outrem; seja filho ou não.

O mesmo raciocínio silogístico se pode deduzir de Deus Pai, nosso criador, com suas criaturas. Quando um fiel, um católico ou evangélico, um pastor ou profissional da fé, faz ou estimula seus seguidores a essas práticas, esses líderes religiosos que estimulam esses sacrifícios, essas penitências, essas devoções, essas mortificações, esses autoflagelos, o que estão expressando e afirmando? Que Deus, nosso Pai Eterno e Criador é um Deus sádico, que se sente dignificado e gratificado com os sofrimentos, as carências, as humilhações e dores dos seus filhos, suas criaturas. Será? De novo, a analogia com os humanos. O pai dá um presente ao filho, faz-lhe um benefício. Como moeda de troca e recompensa exige que o filho se automutile, se ajoelhe em espinhos, pregos, provoque algumas queimaduras, se estropie em fatigantes caminhadas com sol a pino, passe fome e sede! Se um pai e mãe fazem isto com algum filho, leve-os de imediato a um hospital psiquiátrico, porque são indícios de algum distúrbio mental, psíquico e espiritual.

João Joaquim - médico e articulista do DM

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