Bem comparada pode a função paternal ou maternal serem equivalentes às de um ourives. Aquele (a) profissional que toma qualquer metal precioso, ainda em forma rudimentar, bruto, vindo da ganga ou leito terrestre e o transforma na joia, a mais preciosa, a mais bela. É a matéria informe, rugosa, agreste, áspera. E vai se purificando, e vai ser esmerilada, alisada, formatada, formada, esmerada, até o resultado desejado, em um objeto vistoso, utilitário, produtivo, belo, com destino a adornos e embelezamento.
A educação familiar, com pai e mãe comprometidos com essa responsabilidade, não importa que idade tenha o filho; nem em que época, pré-internet por exemplo, em que esse sujeito foi criado e educado; a educação familiar boa ou falha/tolerante deixa um legado, marcas sociais no indivíduo, de forma perpétua.
A Psicologia Positiva e a Sociologia Laboral estudam a personalidade e disposição do indivíduo, fazendo um levantamento do estilo social, cultural e relacional com os pais. Esse liame é decisivo, determinista no que vai ser o filho. A psicologia classifica muitos desses sujeitos como desadaptados e disfuncionais, de começo, na posição familiar ou social lato sensu. Isto significa que cada indivíduo, em face de seu modelo de criação, será um eterno disfuncional, no que se refere à sua aptidão para prover até a própria subsistência. Ou se veio de um bom ourives, será uma joia valiosa, que brilha!
A formação do animal humano se faz em etapas que vão muito além do simples processo de gestar, engordar, amadurecer e torná-lo adulto. Com gente se faz diferente. Envolve o roteiro de criar + educar +formar, lato sensu. Etapas que exigem critérios éticos, civilizatórios, morais e formação cultural, técnica e cientifica e profissional utilitária; para si e para aquelas pessoas do convívio. Há pessoas eternamente inúteis na vida. Alguns até nocivos, parasitários de outros, sociedade e Estado.
A família, os pais em especial, têm esta nobilíssima responsabilidade na construção e formação dos filhos. Muito além de direitos, esses pais possuem o dever maior em estabelecer limites, balizas, regras nas relações dos filhos. Relações sociais com membros parentais, com as pessoas do entorno familiar, com os idosos, professores e colegas de escolas. A Ética boa e construtiva começa em família.
Aos filhos devem ser ensinadas as lições domésticas no cuidado do ambiente familiar de convívio, dos pertences e roupas pessoais, com o quarto de dormir, com os sanitários, com os objetos de uso pessoal e familiar. O domicílio no papel de laboratório de criação de filhos. “Diga-me quem é sua família e dir-lhe-ei que é”.
Nesse contexto, nessa equiparação e analogia dos pais com função de um ourives, como um joalheiro, temos então aqueles genitores de variadas categorias. Podem assim, esses profissionais paternais irem desde, conforme o estilo educacional dado aos filhos, os charlatões, os amadores, os inábeis na profissão, até os mais bem qualificados na nobre, na excelsa função de gerar pessoas de bem, gente civilizada, cidadãos. Revela-se, portanto, um cumprimento intransferível, inalienável, nessa, que é a missão de um pai ou mãe, a de educar integral e eficazmente um filho (a).
Este é um emblemático problema da chamada pós modernidade. Vivemos tempos muito estranhos, bizarros e esquisitos, quando se fala em educação de filhos. Ela deveria ser o rumo, a salvação do homem, a redenção e dignificação da pessoa humana. Não tem sido assim. Vimos assistindo hordas de adolescentes, jovens, moços e moças despreparados para a vida ativa, produtiva, participativa. Indivíduos eternos adolescentes, os peter pan da vida. Resultado da (des)educação que receberam das famílias, desajustadas, plugadas na Internet e redes sociais, ninguém mais lê, ninguém mais elabora mentalmente.
Por fim, em se tratando dos desadaptados e disfuncionais desses e de todos os tempos. O homem é um dos muitos animais gregários, isto é, os que vivem em grupos. O homem político de Aristóteles é esse: social, civilizado e grupal. Ninguém vive sozinho ou isolado de outra pessoa. Todos dependemos de relações sociais, interações e convício. Entretanto. Essas relações são muito melhores e mais civilizadas, quando se tornam solidárias e cooperativas. O melhor princípio ético e civilizado é: todos por um e um por todos. O que for bom para a abelha, deve ser bom para a colmeia.
Entretanto, não raramente, assistimos e convivemos com pessoas que prezam muito serem bem servidas e nunca são servíveis a outros do grupo. Essas tais e quais, resultados que são de uma educação familiar duvidosa e tolerante trazem na essência moral e interna uma enorme afeição e aceitação à dependência pessoal e material de terceiros. E apreciam serem bem servidas, incensadas e protegidas. Tudo feito em mão única, o que vai a elas de energia e dispêndio, não tem retorno. Sempre. Eternos coitados e dependentes.