O CUIDADO NASCIDO DO CORAÇÃO E O CUIDADO POR OBRIGAÇÃO
Tanto no campo da Psicologia Social quanto na Bioética estuda-se o chamado sentimento do cuidado ou generosidade. Por definição, é aquela disposição de espirito e emocional de se dedicar e cuidar de outra pessoa. E não apenas quando se trata de pessoa do convívio e parente, mas de outros indivíduos do entorno habitacional, comunitário. Mais uma observação não menos significante, esse cuidado não se restringe a pessoas doentes, com certas limitações físicas ou cognitivas. Exemplos: um idoso, um pai, mãe, avós.
O cuidado ou generosidade se revela no cuidador (a) que sendo mais jovem e muito mais saudável se mostre generoso e cuidador (a) de forma espontânea e voluntariamente. Que se coloque no lugar do outro (empatia). Esse sentimento do altruísmo ou de cooperação, assim se revela genuíno, verdadeiro e leal, nesse tipo de relação pessoa jovem – relativamente/outra pessoa mais idosa. E O cuidado por livre e espontânea iniciativa.
Consideremos então, a relação de pessoa mais jovem e saudável com outra pessoa carente, necessitada de ajuda. Não importa que tipo de auxílio: companhia, mobilidade, auxílio de alimentação, higiene, práticas elementares de enfermagem, banho e asseio corporal. Consideremos ainda, que essa relação cuidador/pessoa cuidada seja parental. Seria a demonstração máxima de expressão de cuidado, voluntarismo e generosidade. Existe o amor/cuidado de vocação ou de coração e aquele “amor” feito por coerção (social, obrigação).
Feitas essas considerações vamos refletir juntos. O que se assiste e persiste entre tantas relações de pais/avós/filhos/netos/netas? A prática do descaso, negligência e abandono. E esses nocivos sentimentos se expressam em variados graus de indignidade, de indignificar a outra pessoa, quando esta pessoa se acha em idade de mais fragilidade e vulnerabilidade, seja pela senilidade, seja por sequelas físicas. Muitos idosos (as) são deixados em asilos e casas de apoio pelos filhos. É o extremo de desamor e cuidado com uma pessoa parente idosa e frágil.
E por que algumas pessoas (filhos, filhas, pais) se mostram pessoas negligentes e não generosas (em cuidados e atenção) com outros? Tanto com gente do seu convívio comum (casa, família) e de seu entorno condominial, social, corporativo, trabalho? As explicações e endosso vêm desses ramos científicos: Psicologia e Sociologia. Grandes pensadores e doutrinários falam no mesmo sentido: Aristóteles, Santo Agostinho, Confúcio. O que há de certo e científico?
Para Aristóteles nenhuma pessoa nasce ética. A criança nasce aética e amoral. A ela precisa ser ensinada esses valores da infância. A ética e a virtude são valores morais que devem ser ensinados e treinados com a criança, adolescente e jovem. Um pai e mãe que criam e não instruem e educam com rigor e primor ao filho ou filha, dele poderá ser vítima quando dele necessitar dos cuidados como idosos ou dependentes. Esse filho ou filha, assim comportando, ao termo e cabo das coisas não tem culpa. Ele foi criado, engordado e crescido nesse modelo. Apenas. Não teve uma formação ética social e familiar. Essa é uma tese explicativa bem convincente. Resta outra, de igual forma instigante! Vejamos:
E esta outra tese se funda nessa dinâmica e expediente muito encontrado em muitas famílias. É o chamado efeito extrafamiliar auferido e sofrido de outras famílias e outros contatos sociais. É o modelo do filho ou filha que ainda na fase adolescente passa a conviver fora da casa dos pais, onde tinha uma educação padrão e nos moldes dos limites éticos e cooperativos de uma família onde todos os filhos e filhas ajudam nas tarefas de casa. Saído da casa dos pais, em geral para estudar fora do domicílio: Pensionatos, casa de amigos, repúblicas, ambientes com estilo educacional e social diverso e adverso ao dos pais.
Esse (a) adolescente prontamente se contamina com esse novo e liberalizante comportamento de vida. Negligência, desprezo até com a própria higiene corporal e do espaço vivencial comum. E este é também um enigma para as Ciências Humanas, para as Neurociências e Psicologia. Por que crianças e jovens assimilam pronta e eficazmente o que é ilícito, feio, indecoroso, antissocial, negligente e nada digno? Tanto para si como para as pessoas do convívio parental e social? Intrigante e irritante. Como se aprende o que é errado e antissocial com mais rapidez e facilidade? Dúvidas de difíceis respostas