O que ainda instiga a análise de pessoas bem pensantes e cientistas de Humanidades (sociólogos, psicólogos, neurocientistas) é a disposição de grande parte da sociedade humana em acreditar em mentiras e charlatanismo de todo gênero. Essas fabulações e retóricas da enganação se acham em todas as atividades humanas. E se há algumas campeãs, podem ser eleitas a Saúde e as Religiões.
Carl Sagan (1934-1996) foi um renomado Físico e Astrônomo, com passagem pela NASA, a Agência Espacial Norte Americana. Ele escreveu o livro: O Mundo Assombrado pelos Demônios. Trata-se de uma linguagem simples, jornalística, de como funcionam as mentiras, as fake news, as superstições, a mente das pessoas que acreditam em Pseudociências, em Horóscopo, em Astrologia, em Homeopatia, em Constelação Familiar e Psicanálise.
Porque é exatamente o que vê: gente com potencial de discernimento, gente escolada, gente jovem e com diplomas recebidos de boas Faculdades. E apesar dessa escolaridade, sejam pessoas capazes e crentes, convictas em mentiras, enganações, em charlatanismo, em palavras mágicas, em magnetismo de materiais e objetos terapêuticos, em insumos sanitários milagrosos. Em abracadabra e preces proferidas como papagaios que afastam maus-olhados, macumbas, maldições, pragas enviadas por desafetos e inimigos. Em fofocas e maledicências feitas por gente invejosa.
Um campo bem representativo de um festival de besteiras é o da Saúde. O quanto há de charlatanismo, falsos terapeutas, curandeiros, palpiteiros e variados mercadores de insumos farmacêuticos e suplementos para tudo quando se acredita; questão de fé e convicção. Tudo começa pelo exemplo de exames da chamada medicina alternativa ou ortomolecular. Exames sem nenhum fundamento técnico, clínico e científico. Vêm então os terapeutas e personals trainer a domicílio e de academias. São os exames de minerais, de magnésio, de íons/sódio e potássio; de vitaminas, de hormônios.
E olha, esse fato: existe médico nesse staff de profissionais como o pior charlatão porque ele passa credibilidade, e se torna conivente chancelando os pedidos dos charlatões palpiteiros. Chega a jovem madame ou um jovem repimpado de energia, músculos e gordura no consultório, na maior naturalidade: doutor, eu preciso de trocar essa lista de exames, tenho plano de saúde! Porque meu personal indicou-me, para ver como estou! O sujeito está cheio de energia, jovem, porejando gordura e hormônios e quer dosar hormônios masculinos. Cerca de 99% de exames desses jovens são normais.
Quer outro besteirol? Aqui vai. Os suplementos à base de creatina e proteínas. O indivíduo não é atleta, mal faz academia e atividade aeróbica. Mas, acredita em abracadabra e milagre do marketing. Basta essa prova da besteira desses suplementos de proteínas (caseína, aminoácidos); a dosagem das proteínas no sangue antes e 7 dias pós a ingestão diária desses produtos. Certamente estarão inalteradas. Nosso organismo é sábio, ou elimina o excedente ou estoca as substâncias, com risco dos efeitos colaterais de alguns produtos. São os riscos de muito cálcio, muita proteína, vitamina D. Podem ter graves efeitos colaterais. Mas, os charlatões, mal sabem desses riscos à saúde humana.
Por fim, nada se compara com o charlatanismo das religiões. Elas se tornaram como mercadoras da fé, da ingenuidade e crença das pessoas. As igrejas se tornaram como salvas-guardas das pessoas em sua angústia existencial, familiar, conjugal, trabalhista, social. Tinha muita razão o materialista Karl Marx (1818-1883), com sua frase, “A religião é ópio do povo”. E atenção e para ser justo: Marx não foi nem desrespeitoso nem desdenhoso com as religiões. Não importa qual, Cristianismo, Islamismo, Judaísmo (monoteístas). Na certa e comprovado, a expressão religiosa, o acreditar e ter fé em Deus, espíritos, entidades, são lenitivos, sedativos e confortos para as várias formas de sofrimento, de opressão, de carência das pessoas. São escoras para as pessoas, elas trazem um sentido para uma existência sem sentido e de opressão.
É muito instigante e constatável essa disposição de perfis de pessoas. Na vida ordinária e rotineira, elas são pouco aficionadas a um padrão ético e civilizatório de umas com as outras. Displicentes nos deveres cívicos e sociais da generosidade com um idoso, um pai ou mãe debilitados. Mas, são dadas a frequentar sessões doutrinárias, ouvir mensagens cristãs, ler preces e palavras de ordem todos os dias, vídeos de autoajuda religiosa e social. Mas, alguém em fase terminal ou pré-agônica, morre quase abandonada (pai, mãe, avós). Morta aquela pessoa, no íntimo e subliminarmente, sentem-se aliviadas e sem o fardo daquele cuidado. Também meu fulano ou minha sicrana descansou. Foi-se! Agora, imagine, se não fossem adeptas de preces e certas prédicas religiosas! Enfim, são perfis sociais e éticos encontrados por aí.