João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor
Uma questão não menos mística que moral trago aqui aos meus leitores e leitoras. É um tema que já foi objeto de análise de doutrinas, filosofias, sociologia e religiões. O mote ou glosa é este: a transformação ética e moral de um indivíduo no post-mortem imediato e via mediatos. Em outros termos: temos aí nos variados meios sociais, na família, nas corporações, no nosso entorno profissional e laboral aquela pessoa de vida torta, vícios, vida desregrada e doidivanas. Entretanto, toda a arraia-miúda sabe dos destrambelhos desse conviva, sabe de seus zeros profícuos atributos éticos e civilizatórios. Por vezes um sujeito patusco e aficionado às esbornias e tabernas etílicas da vida, às orgias de todo gênero, ao centro gravitacional do comer de forma panturrilha e repimpada (gula, pecado Capital).
Entretanto o tempo é nosso mestre: “O tempo é o mestre soberano de todas as coisas. Se hoje você chora por algo que nunca teve, amanhã sorrirá por algo que será eternamente seu. Mostra o tempo quem somos em vida com amigos de copo e garrafas, revelando qualidades, defeitos, gostos e desejos”. Morreu que seja, a moral ressuscita!
Ah, tempo! você pode ser até carrasco, nos enrugando a pele, o rosto, as rimas de expressão. Mas, fechada sua incessante corrida, costuma aquele vilão, irresponsável, golpista, improbo e infiel até com sua jurada mulher ter outra biografia. Agora, não! Se você morre, ainda há como que de pronto e imediato um rebatismo, uma reconfiguração ética, social e moral. Então os mediatos e mais genômicos, dão início ao comício, sobre o de cujus. E são prédicas de muita verossimilhança com o apregoado e leiloado. E assim forma o séquito com suas bajulações! Ah, “indesejável das gentes”!
A exegese e tradução de começo é de que o sujeito do passamento, foi buscado por uma ordem divina, superior, do suprassumo, do cosmo. “Tanto assim, como o demonstra sua amimia facial, ele (a) foi-se desta sereno (a) ”. Como se transfigurasse em um refrigério indizível, místico e inefável. Hum, sei. Arre! tartufice! Quem diria!
Assim, vão expressando os ligantes genômicos, os convivas, os comensais, os que compartilhavam assiduamente das bona-chiras dominicais, dos feriados e datas festivas, aniversários. E nem de tanto careciam para serem pontuais visitantes! Hum, sei! Agora, que importa se o de cujus era um estroina, um doidivanas, um originalão nos respectivos múnus de qualquer natureza. Ah, tempo. Ah, tempos da indesejada das gentes! Agora vindo o além, os sentimentos fóbicos do ogro, do ínfero. Quão presentes esses sortilégios, nessa elegíaca consoada. Metamorfose tanatopráxica. Carioca Bandeira, você foi preciso. Faz-nos entender quem sempre hasteia bandeira de veniaga. Sempre!
E aqui neste arremate, como já dizia o bonifrate e em um paralelo ou compilado de certo tanatopraxista. O sujeito, antes mesmo de seu passamento vai como que sendo galardoado, com sinetes, selos, atributos, virtuosos gestos. Quem diria hein! Adeus ímprobo, infiel, golpista, caloteiro, aproveitador, mendaz, patusco, libidinoso, lascivo. Santo passamento, o que um estilo desbaratado e aloprado fazia o além conserta. Sem concerto, vamos combinar, não é fato!
João Dhoria Vijle - Crítico Social e Escritor