FILHOS CRIADOS ASSIM

 Ouve-se por aí e alhures, pessoas falando certas verdades ou opiniões como um sincericídio. Dias desses ouvi de uma senhora, ela já passada da madureza da idade e início de sua senectude. Eis a expressão: “Ah, deixe ele, eu criei ele assim e não vai mudar, eu me penitencio”.

Essa mãe dava o seu mais irretocável depoimento sobre a recalcitrância e resiliência do filho que apesar de saúde de ferro, corado, robusto e inteligente, graduado e pós em profissão bem ranqueada no mercado, em nada contribuía; tanto em casa quanto em sua autonomia pessoal e financeira era um zero à esquerda. Ou melhor, até um negativo parental, porque gerava um passivo fiscal no próprio sustento. Sequer, compartilhava e cooperava na mantença e tenças tarefeiras do domus comum. Vivia no estilo hóspede de luxo, porque gostava da bona-chira e outros acepipes de 1ª qualidade, de preferência tudo fresquinho, da hora.

Como eu muito conheço e sei da índole e da alma dessa mulher faço de sua frase o mote dessa minicrônica. Posso falar sem rebuço, até porque não citarei seu nome, nem outros indícios identitários, para não ferir melindres ou servir minha digressão como carapuça.

Referida acreditável senhora e mãe, sem dizer quantos filhos. Ele referia ao filho caçula! Ah, síndrome do único ou caçula! Ao contexto da referência, para entender.

A mãe dava o mais sincero e real depoimento sobre o caráter, o estilo de vida, a personalidade, o senso cooperativo e laborativo do filho, já no gozo de seus 6 lustros de vida. Que apesar do médio etarismo, levava a vida no estilo da música do Zeca Pagodinho:

“Deixa a vida me levar (vida leva eu) /Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu / Se a coisa não sai do jeito que eu quero /Também não me desespero /O negócio é deixar rolar /E aos trancos e barrancos, lá vou eu” Zeca Pagodinho.

Temos assim, pelo exposto, um caso concreto e empírico, no reforço das teorias e diretrizes de como se gesta, se cria, se engorda, se forma e chega à construção integral da pessoa. Partamos da seguinte proposição, conforme postulados da Sociologia e Psicologia Social. Todos nós/homens e mulheres, nascemos com uma carga genética, pouco modificável, mas, moldada; e herdamos uma influência ético-social dos pais e domicilio onde somos crescidos, treinados e ensinados. Em outros termos:

Cada criança se põe no mundo como uma tábula rasa, uma lousa em branco, analfabeta em tudo. Ao nascer a criança, de forma inata traz apenas os instintos de sobrevivência e ganho corporal. Sugar, ingerir, sentir frio e dor e chorar diante dessas carências ou incômodos. Essas constantes fisiológicas, nem de Ciências ou estudos científicos necessitam porque são de fácil constatação para quem são pais. Basta boa observação.

Os demais valores/sociais, éticos, morais, culturais, profissionais, e aquisições nos quesitos formação integral da pessoa, vão ser imprimidos e oferecidos pelo padrão educacional de pai e mãe, principalmente iniciados pela mãe, a primeira e determinante referência da criança (filho, filha).  E não custa realçar, a mãe é figura marcante na formação de um filho (a). Quantas mães gestam e criam filhos no estilo animal. Gesta, engorda, protege em demasia o filho em uma bolha de mimos e privilégios. E dispensa a este filho (a) uma imunidade contra os mínimos sacrifícios de vida. Tudo prontinho e da moda. Comida fresca e da melhor, os melhores bifes e carnes de 1ª, sucos e refrigerantes ao gosto. Filhos que se tornam hóspedes de luxo. Um dia, pai ou mãe mostra ao filho alguma opção de gente já madura e na hora de ir embora de casa. “ Ah, não! Não vou fazer isto nem tal trabalho. Enfim: Ah, ele é assim! Eu criei ele assim, e não vai mudar! Sentença de morte laboral e produtiva. Vade retro, malcriado! Em outros termos, são adultos que foram aqueles filhos criados com mães no estilo galinhas chocas, com os pintos sempre sob suas asas, bolhas domésticas. Nunca puderam ralar, sacrificar. Foram imunes a qualquer esforço, mesmo doméstico, sem sofrimento. E assim. Se tornam pessoas frágeis, incapazes, dependentes de tudo para a vida funcionar.

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