O descaso médico na espera de consultas e exames

 Eu escrevo esta crônica e sei que estou sujeito a severas críticas por parte de meus pares. Mas, vá que seja. Estou exercendo o meu direito de opinião, de consciência e de liberdade de expressão ou imprensa. Falo dos péssimos, dos desumanos atendimentos médicos nas esperas (longas esperas) de pacientes quando vão a uma consulta, para um exame complementar. Beira ao escárnio, desdém e desrespeito. Porque está a se tratar com uma pessoa doente, muitas vezes em sofrimento, com dores, com angústia, aflitiva pela doença. Uma espera de 15 min, 30 min tolera-se. Agora 2 horas, 4 horas, beira ao desrespeito!

Quero sublinhar uma vez mais, porque já discorri sobre o tema. Sei que serão palavras jogadas ao vento. Ficam aqui numa forma de má impressão e mesmo sugestão e protestos de baixa estima. Refiro-me a um item da relação Médico/paciente, ou clinicas/pacientes, hospitais/pacientes. Enfim, qualquer forma de atendimento a quem procura atendimento de saúde, não importa em que condições, se eletivos ou urgências. E muito mais agravante, quando esse cliente de saúde, se encontra na condição de paciente (o que padece, o que sofre, seja na esfera mental, psíquica ou orgânica). De novo, não importa se pelo SUS ou particular. O compromisso do médico é o mesmo, de clínicas e hospitais, idem. E não é o que se vê e assiste no dia a dia, das filhas e esperas de atendimento.

Antes de adentrar à questão central. É bem reconhecida e bem avaliada a qualificação de muitos profissionais médicos, no Brasil. Mas, atenção, não esqueçamos que as formações médicas, nas faculdades médicas, notadamente nas privadas são precárias, sofríveis. As estatísticas de erros médicos mostram bem essa triste realidade. Entretanto, existem boas exceções, e dá bem para separar o joio ou o arroz de terceira do trigo.

E mais uma observação: quando se trata de Medicina, no que concerne à qualificação e capacitação profissional, se for um profissional que não se acomodou em seu sofá, em sua formação, ele se faz igual ao vinho de boa qualidade, quanto mais passa o tempo, melhor em seu ofício, em sua credibilidade. Porque se teve uma formação padrão, ele pode melhorar, aprimorar, reciclar, reeditar e se atualizar, permanentemente! Os avanços na Medicina, que se valem da Ciência, óbvio, são contínuos e rápidos. Tudo muito dinâmico. Como em todas as áreas do conhecimento.

Um profissional idealista, ético, responsável, não vai querer ficar para trás, em novos achados, métodos clínicos, diagnósticos. Exames e tratamento. Tem sido muito comum vermos médicos, como exemplos de profissionais de saúde que investem muito em belas clínicas, fachadas, decorações, atendentes e secretárias bem treinadas, boa comunicação por todos os canais, de belos visuais de recepção, diplomas e certificados nas paredes comprovando a formação daquele (s) profissional (is). Enfim, muita beleza, estética física e de apresentação e decoração de últimas gerações.

Entretanto, quando se chega ao item de humanização do atendimento, no estrito quesito de pontualidade, no cumprimento do horário marcado para o atendimento, existe um absoluto descaso nessa prestação de serviços. Poucas são as clínicas, os profissionais que fazem o atendimento: consulta, exames por agendamento e cumprimento do horário marcado. Para mais precisão, muitos são os profissionais que não atendem por agendamento, mas por ordem de chegada. Há um absoluto desrespeito, um descaso nesse quesito, inclusive menosprezando as condições clínicas do paciente, que sofre, que padece, que se encontra em privação pela doença.

Vamos imaginar um atendimento de uma consulta. Fala-se aqui de caso eletivo, de consultório. É simples e perfeitamente possível o médico cumprir o horário agendado, com um atraso tipo 10 min 15 min. De igual forma um exame, uma tomografia, uma radiografia ou sessão terapêutica. Esperar 10 min, 15 min é muito compreensível. Agora, imagine-se bem; marca-se uma endoscopia para tal hora, por ordem de chegada. Paciente idoso com comorbidades. E espera-se 3 horas, 4 horas, 6 horas. É absolutamente desumano. Porque imagine-se mais, há exame, como endoscopia digestiva que exige longo preparo e jejum prolongado, 12 horas, 20 horas; e existem as comorbidades do paciente. Sofrimento, privação, risco de complicações e até morte.

O que se deixa como crítica é que se trata de uma cultura anômala do Brasil, um descaso na relação dos profissionais e serviços de saúde com o paciente, com o doente. Um expediente e negligência que fere de morte o código de ética profissional, porque envolve, privação, sofrimento e muita angústia e desconforto para quem faz o exame, espera uma consulta etc. A otimização nessa prestação de atendimento é perfeitamente viável e possível e nada complexo. Trata-se de uma questão de boa gestão, de organização e controle interno e nada complexo.

E mais um ponto a considerar nesse péssimo atendimento: o brasileiro é um povo pacífico que tudo aceita de forma passiva e sem reação. Se todos reclamassem a melhora viria rápido; porque não é difícil essa disciplina, essa organização. Cada tipo de atendimento, seja uma consulta eletiva, seja um exame de sangue, de imagem, um ultrassom, uma tomografia, uma endoscopia, o tempo gasto é muito previsível. As exceções existem e elas são aceitáveis, como em uma cirurgia que pode ter uma intercorrência. Mas, são poucos casos excludentes. No Brasil, existe uma cultura de normalizar e naturalizar muita coisa disforme e anômala. O descaso com a saúde e atendimentos médicos, nas relações profissionais/pacientes é uma dessas anomalias.

 

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