O QUE NOS ENSINA RADUAN NASSAR (1935-)

Na esteira das muitas desilusões deste quase fim de ano, me lembrei do que Raduan Nassar disse, em 1984, ele anunciou que estava encerrando a arte e gosto de escreve. Mais recentemente disse a respeito da condição humana “… eu acho que o homem é uma obra acabada. Pode estar diferente hoje, adquirir conhecimento, criar as maquininhas, voar pelo espaço, mas eu acho que ele é uma obra acabada. Depois, interrogado novamente completou:  Eu não aposto no aprimoramento da espécie, eu não aposto nisso”. (Folha de S. Paulo, 30/05/95).

Algum tempo depois, provocado por um grupo de ilustríssimos entrevistadores, ele espichou um pouco mais o assunto: “Que eu saiba, a espécie humana continua igualzinha ao que era antes, cada indivíduo fazendo o caminho de sempre, que vai de santo a capeta. O que acontece nesse percurso é o nosso patrimônio”.

E o que acontece nesse percurso? Perguntam os entrevistadores, professores e críticos literários consagrados? Raduan responde: “Sacanagem, inveja, generosidade, amor, violência, ódio, sensualidade, interesse, mesquinhez, bondade, egoísmo, fé, angústia, medo, ambição, ciúme, prepotência, humilhação, insegurança, mentira e por aí afora, mas sobretudo passionalidade, além do eterno espanto com a existência. É esse o patrimônio da espécie”.

A obra magistral de Raduan grita essas mesmas coisas o tempo todo. É um grito colérico, exasperado, tão vivo quanto um tremor de terra, tão bem escrito quanto uma sinfonia eletrizante. Nada fica no lugar dentro da gente diante de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera. Cada frase é um estremecimento em si mesmo.

Menino criado em fazenda, filho de dona Chafika, “criadora de mão cheia” de galinhas e perus, Raduan devolveu à terra o que a terra lhe deu de ímpeto para seguir escrevendo a vida. Na entrevista aos bambambãs da teoria literária, o entrevistado se lembra da performance caricata de um amigo escritor e tradutor: “Hamilton Trevisan dizia que continuamos na vida adulta a recitar ‘Batatinha quando nasce’, esperando por aplausos. Ele falava isso com muita graça, imitando a menina que puxa as pontas da saia para os lados e curvando o corpo para frente com falsa modéstia ao agradecer os aplausos”.

O que vale, diz Raduan, é você ser sujeito do seu trabalho, seja ele qual for. É você estar inteiramente ligado na sua batatinha quando nasce, seja ela um esplendor de literatura ou um esplendor de espiga de milho.

Consagrado como um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos, com apenas um romance, uma novela e três ou quatro contos, o Prêmio Camões 2016 completa 89 anos no próximo 27 de novembro. Salve Raduan, o escritor que cultivou palavras e cultivou a terra com igual fervor. Ele vive em Buri SP, em uma fazendo que dou parte a seu caseiro e parte à Universidade de São Carlos, para uso de cursos de Ciências agrárias.

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O que vemos hoje, em se falando de crescimento ou evolução humana são estratos de humanos bem definidos. Humanos, na caracterização multitudinária do gênero como um animal proposto como racional, superior, inteligente e dotado de raciocínio abstrato e pensamento lógico. Atenção: necessário que façamos ainda essa mudança de adjetivação. Porque muitos são os estratos sociais e culturais (sic) de gentes que nem bem raciocinam e nem bem pensam. Muitos e muitas, vivem como zumbis, papagaios que repetem falas do tutor.

E porque de se cravar essa característica do homem desses ditos e alardeados tempos pós-modernos, pós modernidade liquida nas palavras e teorias do filósofo polonês Zigmunt Bauman (1925-2017)? Por que? Com o surgimento das tecnologias de comunicação e informação: televisão, telefone celular; e sobremaneira as mídias digitais, internet e redes sociais, rebanhos e chusmas, catervas e maltas de pessoas, adictas e atoleimadas desses provedores (Tik, Tok, Instagram) passaram a não usar mais o seu intelecto e cognição. Passaram a meros consumidores do que apregoam adictos e viciados um pouco mais cultuados (será? Os influenciadores digitais). Comunicadores e provedores são como os mestres, os instrutores, professores de grandes rebanhos desses tipos humanos! Os que não raciocinam e não pensam. Apenas usuários e digestores! A Internet e redes sociais se tornaram referências culturais, escolas de instrução de grandes rebanhos de pessoas. Fora dessas telinhas ninguém sabe mais nada.

Não se pretende aqui, praguejar e nem demonizar ou condenar provedores e redes sociais. São neutras e inócuas. Sequer movem um fóton sozinhas. A questão está nos humanos que delas fazem mau, ignóbil, vil, pernóstico uso.  Nunca na História humana se viu grupos de tecnólogos e cientistas cibernéticos (os inventores de internet e redes sócias) acertarem tão bem e na mosca, em criar um sistema artificial, bom exemplo a IA, como os mais cativantes e escravisantes insights em comprar escravos e cativos ao uso dessas plataformas. E atenção! Tudo voluntariamente pelos cativos digitais.

As imagens e esculturas humanas, nos variados e diversificados fins sociais e produtivos (se é que se pode assim nominar muitos desses) são simbólicos, emblemáticos e robustos nessa convicção. São as pessoas nas suas poses ao celular, nos tablets, nos notebooks. Vivemos como exemplo os tempos dos corcundas e tortos vertebrais das redes e mídias digitais.

O que se vê nesses posts, vídeos, frases, fotos, likes, curtidas? São os risos sem risos, todos concentrados e estáticos: tautologia, truísmos, frivolidades, eternos frívolos, imbecis. Cada qual com suas dezenas de amigos e amigas, plugados, conectados. Tais levas e permanentes usuários, nos lembram casas de orates, casas de imbecis e hospícios virtuais. Todos online. Daí surgem as doenças mentais e cognitivas: fomofobia, nomofobia, dependência digital, ansiedade digital. TDAH, depressão, autismo digital, neuroses, depressão, isolamento!

 OBRAS de Raduan Nassar

·          Lavoura Arcaica (romance), 1975

·         Um copo de cólera (novela), 1978

·         Um copo de cólera / Lavoura arcaica, 1980

·         Menina a caminho (contos), 1994

Fonte informativa > https://www.metropoles.com/colunas/conceicao-freitas/o-fervor-de-raduan-40-anos-depois-de-ter-abandonado-a-literatura > jornalista Conceição Freitas.

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