Comida e cerveja como centralidade da vida

 Eu começo este texto como um breviário. E peço bem a atenção dos leitores e leitoras, sobre o núcleo do tema.  Se reportamos no que na antiga Grécia eram os motivos e incentivos a que as pessoas comparecessem a algum ajuntamento de gentes de todos os níveis sociais, civis e culturais, eram os falantes, os que iriam expor suas ideias, suas falas, sua conversação.

As salas, os cenários, os locais de encontros daqueles idos tempos se resumiam ao único espaço público: a Ágora. Seria o corresponde ao que temos hoje em dia, a uma praça pública, um bosque, a um coreto. Coreto, é uma construção aberta nas laterais, com piso acima do solo, tipo 1 m de altura, onde os falantes, oradores e candidatos políticos dirigem as suas ideias, propostas, mudanças de sistema de governo. Onde eles fazem seus comícios e campanhas para serem eleitos. Ou seja, um exemplo de propaganda pessoal, dotes pessoais para gerir, administrar as coisas públicas, bens públicos. A palavra República, vem da expressão: res, coisa; e pública, coisa pública.

Então, em se falando da Ágora, da praça pública, para onde as pessoas eram convidadas, e iam massivamente, havia o motivador e atração especial para o comparecimento e audiência. Eram então pessoas que, ao ar livre, iriam proferir os seus discursos, a sua cultura, as suas ideias. Em grande maioria, eram os intelectuais, os candidatos a algum cargo político. Filósofos, pensadores, intelectuais, principalmente. Basta lembrar quantos filósofos e sábios foram gestores públicos? Cicero, Marco Aurélio, Júlio Cesar, etc. Havia um comparecimento maciço porque as pessoas tinham sede e curiosidade de aprender, de haurir conhecimento, de degustar e nutrir de sabedoria.

E mais que sabedoria, de se informar como andavam a administração pública, as decisões dos governantes, os direitos de cada pessoa. Para esses encontros e reuniões, as pessoas dispunham de água em fontes naturais, e era água potável, algum alimento simples, pães, frutas oferecidas às pessoas.  Ou nada oferecido, as pessoas levavam um lanche.

Vamos dar um salto de mais de 2 milênios e falar dos dias atuais. Promova alguma reunião de pessoas no dia de hoje. Nessa reunião, o palestrante discorrerá sobre um tema cultural, uma matéria de cidadania, uma palestra de um escritor consagrado, com intensa atividade cultural, social e promoção de cidadania e valores culturais. No convite e convocação se oferece água mineral, cachorro-quente, sucos naturais. Poucas, mínimas pessoas comparecerão.

 Ao contrário disto, vejamos: Uma festa de aniversário com o anúncio de cervejas, churrasco, salgadinhos, massas, pizzas. Detalhe: à vontade, do começo ao fim.  Manjares, chocolates, goiabadas e sorvetes em profusão. Detalhe: confirmação de presença! Para quê! Nem precisa, controle de entrada dos convivas, comensais e comilões. Não faltará um!

Moral dessa sinopse, dos valores e cultura de nossas gentes, desses esquisitos e carnais tempo. As pessoas de hoje, contrário dos tempos gregos e romanos de dantes, são movidas por esses valores e instintos digestórios, da gula, dos prazeres da boca e do baco. Essa é a maior centralidade e satisfação das gerações pós-moderna. Comer, comer, comer. Pouco importa se de tanto comer vai morrer. O que vale é o momento, o que importa é o agora, a satisfação orgíaca e orgástica do momento. A maioria das pessoas dos tempos digitais (era pós-moderna, conforme teoria de Zigmunt Bauman 1925-2017), são caracterizadas pela fluidez, pelo transitório, pelo descartável, nada deve ser atemporal. A começar pelos relacionamentos. Nada de compromisso duradouro.

Vivemos uma cultura das futilidades, da contracultura, de uma vida fútil e leviana. Prazeres fluidos: repimpar de comidas insalubres, de bebidas inebriantes, álcool, pingas, cervejas. Nada de compromissos conjugais promissórios que envolvam direitos e deveres de ambos os cônjuges, namorados, companheiros (as). Comida, sexo apelativo, substâncias psicotrópicas ou libidinais.  Oh, céus! Oh vida! Oh azar!  Isto não vai dar certo! Lippy e Hardy – leãozinho e hiena.

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