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Eternos retornos ao Gastro e PSIquiatra

 Em referindo-se à relação médico/paciente, é de se imaginar duas hipóteses: imaginemos duas especialidades médicas, gastrenterologia e a psiquiatria. Falemos do médico que cuida do digestório e as queixas do paciente; uma a constipação intestinal, outra o refluxo gastresofágico. Paciente vem e há o eterno retorno com mesma queixa: doutor, meu intestino continua preso e meu cocô parece de cabrito (cíbalos). E vem as perguntas de sempre, acacianas (queira ver sobre o conselheiro Acácio de Primo Basílio, Eça de Queiroz), para dizer o mínimo. Está usando fibras, mamão, sementes de mamão, frutas, verduras, folhas, o mínimo de alimentos brancos, muita água (que passarinho bebe)? E a pessoa mente, mente sempre. Porque faz tudo ao contrário.

Segunda questão irritante, desalentadora para um profissional sério e comprometido com a ética e informações tecnocientíficas: o tal refluxo gastresofágico. Basta ver a maioria das gentes que padece do distúrbio: obesas, aqueles hipopótamos e barangas, que veem na comida a maior ou única fonte de prazer e felicidade. A hidratação é feita à base de soluções de sacarose, Coca-Cola, cervejas, chopes, caipirinhas etc. Comidas: churrascos, vaca, galinhas, galetos, massas, pamonhas, pizzas, farináceos, amidos, mais amidos, doces, chocolates e manjares. E haja hipertrofia adipocitária!  

Agora, imaginemos nessa: se esse (essa) paciente é particular, para um profissional ético e bem pensante nada demais. Ele está ali para isto e até saudável, porque está no incremento de seus honorários. Entretanto, ele sabe que é um enxugar de gelo ou trabalho de sísifo (pedra morro acima, pedra morro abaixo). Qual a maior causa de refluxos? Comer demais, massas, carnes, comidas indigestas como carnes e massas à noite, deitar pós refeições, etc.

A relação com o Psiquiatra, algo semelhante. É o chamado paciente reco-reco ou do ramerrão. Ele vem e volta com os mesmos conflitos. Nunca tivemos tantos diagnósticos de transtornos psíquicos e emocionas. São as questões existenciais de sempre, os conflitos familiares, conjugais, a rivalidade e competitividade da modernidade líquida, época bem descrita pelo filósofo polonês Zigmunt Bauman (1925-2017). Tudo supérfluo, nada duradouro.

E aqui nessa área da psiquiatria, há sempre os insights da indústria farmacêutico. Nunca se viu tantos remédios para os “sofrimentos existenciais”, para as desadaptações de toda natureza, os desajustamentos sociais, conjugais, corporativos, para os ociosos, os desocupados, os folgados e vagabundos que até nosso eficiente IBGE criou terminologia pertinente: os Nem, Nem, Nem. Nem trabalham, nem estudam, nem pretendem a tais labores e sacrifícios.  

Nunca se viu tantos medicamentos para os mais diferentes transtornos e os mais exóticos diagnósticos. Tome o exemplo do autismo. Há agora até o autista cuja causa é a excessiva exposição às telinhas e luzinhas e games dos celulares. Essa disfunção se faz pela contínua fixação ao mundo dos fótons e fantasmas virtuais. O mundo digital criou até a figura dos messias (influencers) e dos seguidores). Olha a exibição: eu sigo fulano e fulana nas redes sociais.

 E então haja prescrição de ritalina para TDAH, para ansiedade, para depressão, para falta de atenção, de concentração em livros e cadernos físicos, em exercícios de redação, de matemática, de ciências! Leiam sobre os testes de aprendizagem dos alunos de 15 anos: PISA, IDEB, PROVA BRASIL, Ecad.

Nunca se viu tantas opções terapêuticas para ansiedade, para depressão, para insônias, para mau humor! Os laboratórios e clínicas de terapia têm remendos para tudo. Fazem até Constelação Familiar (inspiração no brilho das estrelas!).

O que se deixa como moral dessa opinião é o que deve pensar um médico sério e comprometido com valores éticos e cânones científicos ao se deparar com esses nominados problemas de comportamento. Tudo envolve estilo de vida, personalidade, vontade, organização mínima do que come, o quanto come, das relações sociais civilizadas e cidadãs. Nesse contexto, o quanto é significativo um médico endocrinologista, um gastro, um psiquiatra, ter uma visão holística, sistêmica e da organização biopsicossocial de cada paciente. Nada fácil!

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