Lavagem cerebral e cegueira crítica

 Ao depararmos com certas cenas e ações humanas, lícitas, creditáveis ou criminosas, nós como pessoas mais pensantes e que exercitam o intelecto, o raciocínio lógico, a razoabilidade, a consciência e lucidez sobre as coisas nos colocamos com algumas reflexões e interpretações de soluções e compreensão muito difíceis. Nesse contexto, trago à baila dois comportamentos muito frequentes para consubstanciar essa reflexão. 1- A crença ou certeza cega em alguma coisa ou proposta e propaganda; e 2- A prática de crimes premeditados na suposição destes delitos não serem desvendados pelas autoridades policiais.

A crença cega. Nesta análise está a se falar em toda forma de acreditação ou fé em alguma entidade, em alguma fala de alguém, alguma recomendação, em alguma receita miraculosa, a fé em alguma entidade superior, a assimilação passiva e imediata de certos expedientes, a certeza e crença em milagres de religiosos, em efeitos não provados cientificamente de medicamentos; em mentiras e fake News, etc, etc.

A prática de crimes premeditados. Muito interessante e intrigante quando se analisa o que se passa na mente desses criminosos. São muitos os crimes chocantes, classificados como hediondos ou odiosos e repulsivos, quando os mentores e executores agem, na “convicção e certeza” de que não serão descobertos e pegos pela polícia. E é justamente no labirinto e recônditos mentais desses agentes que as Neurociências e a Psiquiatria encontram os seus desafios interpretativos. Como funcionam o cérebro e a inteligência desses tais?

O porquê, o que se passa na cabeça desses agentes. A psiquiatria e a psicologia do comportamento classificam muitos desses indivíduos como portadores de alguma sociopatia ou condutopatia. Uma característica desses humanos (se assim podem nominá-los) é a ausência de remorso ou sentimento de respeito pela vida humana. Uma demonstração desse vício sentimental é que esses tais criminosos nunca mostram arrependimento dos delitos cometidos. Insensibilidade e apatia moral absoluta os caracterizam.

Sectarismo ou cega obediência. A História da humanidade mostra o quanto a chamada servidão voluntária está presente nas relações humanas de um líder ou governantes e seus súditos e servidores de todos os gêneros e funções. O exemplo mais emblemático e dramático foi o que ocorreu no nazifascismo de Adolf Hitler, na Alemanha, com a prática do holocausto, comandada pelo ministro Adolf Eichmann. Nas palavras desse genocida, tudo que ele fez de ruim foi em obediência ao seu chefe Hitler. Eichmann dizia obedecer a ordens do chefe.

Próximo de nós, aqui no Brasil, temos conferido e assistido ao que se passou e tem ocorrido com os episódios da tentativa de golpe contra os resultados das eleições de 2022, para presidente da república. Como vêm demonstrando as autoridades policiais e judiciárias, muitos agentes públicos, civis e militares, muitos seguidores do ex presidente Bolsonaro atuaram nesse tenebroso acontecimento, quando um grupo de apoiadores (servidores públicos civis e militares, simpatizantes)  do ex presidente invadiram os prédios dos 3 poderes, em Brasília, na tentativa de mudar o resultado das eleições, com a tomada do poder de comando do país; a tentativa de golpe de Estado.

E vêm então as hipóteses e teses na interpretação desses comportamentos e expedientes humanos. Para a fé cega pela simples crença em alguma proposta doutrinária, religiosa, ideológica. Ao que parece existe uma fragilidade mental, intelectual; alguma hipossuficiência cognitiva desses adeptos. Para esse perfil de pessoas é muito menos laborioso crer e aceitar passivamente do que um esforço maior e buscar evidências científicas ou estatística dos fatos. Pouco esforço cognitivo e intelectual.

No exemplo dos criminosos recalcitrantes e perversos. Ao que parece, esses indivíduos trazem uma deformação genética de caráter; uma hipótese; a segunda interpretação vem do padrão educacional oferecido pelas famílias e meio social a esses agentes delituosos. Uma herança genética e uma herança social educacional.

E essa mesma tese (as duas heranças) explica a chamada obediência ou servidão voluntária. Um seguidor, um sectário, agente subalterno que executa uma ordem criminosa do chefe, do presidente, do líder; ele(a) o faz na convicção de que será compensado e participará das vantagens e privilégios, na esperança e certeza (falsa) de que as ideias e projetos do chefe prosperarão e serão vitoriosas. Um exemplo bem típico, seria um golpe de estado. Para ao final ter um pedaço na partilha do bolo. Puro autoengano!

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