Eu sou daqueles adeptos às armas. Mas, calma. Não falo de qualquer arma. De fogo então, são as que campeiam por aí. Proibidas são, sem o devido porte para as pessoas comuns. Curioso é que as brancas são permitidas. Não sei o motivo do adjetivo branca porque muitas são pretas, outras até enferrujam. Palavras. Muitas dessas armas ditas brancas só levam esse nome porque no emprego culinário e no trabalho seus usuários nem lembram desse objetivo maléfico, arma. Há uma lenda de que a pólvora, provocadora de fogo foi uma invenção do diabo. E brancas, porque a maioria é de aço e inox.
Quando digo que sou adepto de armas, falo metaforicamente. São outras armas. Umas das armas de grande potência de fogo é a palavra. Não sem razão é como uma pá que lavra. E como lavra. Muitas são as pessoas que a empregam, até de forma inconsciente. A palavra é capaz de mover mundo, de iniciar ou parar uma guerra, de provocar ganhos ou prejuízos, de levar ao ódio ou à paz. Quer um exemplo de como a palavra pode levar a uma revolução ou salvar um povo? As campanhas de libertação da Índia, pelo ativista Mahatma Gandhi. Ele promoveu o que ficou conhecido por desobediência civil. Foram companhas e mais campanhas, discursos mundos a fora, conferências, audiências com chefes de Estado, reis, ministros etc. tudo rigorosamente pacifico. Essa foi uma característica de Gandhi. E todos os seus compatriotas o seguiram nessa proposta. Foi a busca incansável pela verdade. Os termos empregados foram ahimsa e satyagraha. Luta sem armas e sem violência e busca da verdade. Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você. – São Francisco de Assis.
Os grandes oradores também são os armamentistas da palavra. Como nitroglicerina. Conta-se que Winston Churchil, quando discursava em frente às tropas nas campanhas da 2ª Guerra contra o nazifacismo ele repetia a frase: “não pergunte o que o Estado pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo Estado.” Olha o quanto de efeitos nacionalistas e patrióticos essas palavras produziam nos combatentes em suas campanhas de guerra.
O curioso e hilário é como o Estado e os segmentos políticos e civis criam palavras e adjetivos para certos fatos e comportamento das pessoas, dos agentes públicos. Na administração pública por exemplo temos a improbidade administrativa e peculato, o desvio de verba pública, a propina, a corrupção, o suborno etc. Nunca, se empregam roubo, ladrão, o falsário, o meliante, o estelionatário etc. As palavras populares, do vulgo, costumam trazer uma conotação mais negativa, mas ao mesmo tempo mais incisivas de significados.
E só como fecho de matéria e exemplo final. Existe na relação de cliente com órgãos públicos um termo bem técnico e bem erudito, que se usado no popular traz outro efeito negativo. É o caso do tomador de empréstimo ou mutuário da caixa. Quando esse devedor fica em atraso na quitação de sua dívida ou nunca paga ele se torna inadimplente. Deste adjetivo temos cognatos que são adimplir, que é pagar em dia suas dívidas, seus compromissos financeiros. Adimplemento, adimplência, inadimplência. Agora analise a diferença em referir que o mutuário da caixa ou qualquer órgão público deu o calote, que ele é um caloteiro. As palavras assumem outro efeito, um significado negativo e ofensivo. Palavras. Eu aprecio estudar e analisar o caráter, a índole, o jeito dos cognatos. Ah! Cognato. Como é enganoso, se mal empregado. Todo cuidado no uso de palavras.
João Joaquim médico e articulista do Diário da Manhã www.drjoaojoaquim.blogspot.com