monocórdio

 O Monocórdio Na Vida de muitas Pessoas

     

   O escritor e filosofo Albert Camus (1913-1960) foi daqueles poucos intelectuais que se dedicou à Filosofia do absurdo da condição humana. Para ele o indivíduo pode revoltar-se contra essa situação e mudar sua história no mundo. “Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer”. Suas principais obras foram O Mito de Sísifo, O Estrangeiro, a Queda, e Calígula. Camus opôs-se energicamente contra toda forma de tirania de direita ou de esquerda, contra o marxismo e contra as discriminações étnicas e de gênero.

   São muito instigantes seus escritos e ensaios concernentes ao absurdo da condição humana. Nesse contexto é emblemático seu livro O Mito de Sísifo. Trata-se do castigo recebido por essa personagem que rolava uma enorme pedra ao topo de uma montanha. Mas, exausto e lá chegando essa pedra despencava até ao pé daquele penhasco e tudo reiniciava de forma exaustiva.

   Vem daí esse símbolo, essa metáfora para com a vida comezinha, rotineira e repetitiva das pessoas. São tantas pessoas que nunca aprendem com a própria vida, com os erros e fracassos cometidos. Quando se traz essa filosofia do absurdo de Camus para a vida em sociedade constatamos o quanto os indivíduos repetem a condenação de Sísifo em suas vidas. Podem ser citados dezenas de atitudes, de comportamentos que encerram no absurdo de vida para essas pessoas. Basta ficar atento às cercanias, nas rodas de amigos, de conhecidos, de familiares, o quanto se repetem a frivolidade, a trivialidade, o vazio e o inócuo em suas atitudes e comportamento.

   A opção pela maternidade ou paternidade para muitas pessoas ressoa como um belo exemplo da penúria de Sísifo. Basta entender que se o sujeito ou sujeita não reúne condições sociais e econômicas para prover dignamente a própria subsistência como ele vai fertilizar e gestar um filho. Lançado ao mundo e no ambiente dos pais esse filho reúne as mesmas chances de repetir os mesmos rigores, a mesma precariedade e humilhação daquela subsistência (sub e hipossuficiência) desses irresponsáveis e sísificos genitores. A todo dia as mesmas carências, marginalização social, discriminação de toda ordem, impedimento a qualquer ascensão social, etc.

   Puro destino de Sísifo. E o que é pior e desalentador nessa escolha de muitos pais e mães. São múltiplos filhos, numerosas proles, ou seja, ficam mais evidentes a repetição e o absurdo da vida para essas escolhas. Tomemos outro caso bem encontradiço de trabalho de Sísifo. Um exemplo na saúde. O grupo de indivíduos obesos. Quase metade da população mundial para ser mais exato. Excluindo a Coreia do Norte e muitos países da África, a maioria das pessoas está acima do peso. O indivíduo marginalizado e carente social e economicamente, pode não ingerir proteínas suficientes. Mas, de farináceos, gorduras, pinga da ruim, açúcares, milho e arroz, ele se empanturra e se torna repimpado, obeso e mórbido.

   A maioria dos obesos o são por excesso de ingestão calórica. O sujeito ou sujeita sabe desde adolescente que se ganha peso ingerindo muitas calorias e se exercitando pouco ou nada. Ele chega à vida adulta em status de obesidade mórbida. E então começa o trabalho de Sísifo. Periodicamente, ou também por surtos, ele faz dieta, vai ao médico, ao nutricionista, faz atividade física com” personal trainer” (termo janota e pedante), chega até a cirurgia bariátrica. Mas essas mudanças de hábitos não se sustentam. E todo o trabalho volta ao sopé da montanha do mesmo desafio, como se Sísifo fosse. Engorda, perde peso, nutricionista, cirurgia bari, etc.

   Por fim, modernamente como absurdo no modo de vida de muitas pessoas temos a Internet e suas redes sociais. Desde a origem desses recursos virtuais temos aquele rebanho de pessoas que nenhum crescimento pessoal, moral ou intelectual trouxe para suas vidas. Isto porque essas pessoas só acessam o que há de falso, de fútil, de nocivo e de inútil. E são incapazes de alterar esse frívolo e inútil jeito de viver. Missão e escolha de Sísifo no mais alto requinte.

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