Pessoas que cultivam Filosofia e outros ramos do saber, Sociologia, Psicologia Social, por exemplo, ao deparar com as relações pais/filhos desses e de outros tempos devem ficar intrigadas e interrogativas. Uma atenta leitura por exemplo da “pequena grande obra” Ética a Nicômaco, de Aristóteles (cognominado O Filósofo), nos dá essa noção. Do quanto é determinante o padrão educacional na constituição integral da pessoa. A Educação é tudo para o indivíduo. “Pegue uma criança desde o nascimento e torne-a no que se deseja para ela”. Segundo Aristóteles Ética é um valor aprendido e treinado desde a infância. Toda criança nasce aética, zero informação sobre o universo das coisas.
Bem comparativo, uma criança é como um metal precioso lá na ganga, na natureza e informe, na jazida bruta e rude. Um pai, a mãe, o educador; cada um de per si, será o ourives, o artista genial ou autor e ator mambembe e tosco no lapidar dessa gema, desse precioso e nobre metal, tornando essa criança em pessoa preciosa, utilitária, gente bem-acabada. Nessa matéria não há uma opinião divergente! Os dados e estudos sociais empíricos mostram essa realidade como uma verdade universal.
Para a tarefa ou missão de se gerar e formar um filho não existem manuais ou cursos especializados. Mas, deveria haver esse curso de graduação e pós-graduação. Tamanha e significativa é a arte de gestar, criar e formar um indivíduo. Gestar e criar se faz com um cachorro, um gato, gente é diferente. Nesse quesito basta a noção de que toda criança ao nascer se põe no mundo em absoluto analfabetismo. Tanto que não fala. Apenas ouve, sente, percebe e reage aos estímulos ambientais, conforme seus órgãos sensoriais na captação desses estímulos. Toda criança normal cresce e se desenvolve ávida e sequiosa de saber as coisas. As perguntas como? O que? Como se faz? O que é isto e aquilo, são simbólicas dessa construtiva curiosidade.
Nesse começo de aprendizado encontra-se a magia e encanto dessa nobre missão de uma vez gestada, construir essa pessoinha tenra, ávida por desvendar tudo ainda desconhecido ao seu redor e familiar. Vem daqui este princípio cósmico e compreensível: “Peque uma criança e faça dela o que se deseja para ela”. E ela responderá aos estímulos e a educação recebida.
Ao assistir certas cenas sociais familiares, nas relações pais/filhos, percebe-se o quanto existem de estultice, de insanidade e insensatez na criação e formação de uma criança. Alguns expedientes e gestos são bem representativos desses disparates e idiotices. Alguns desses são bem encontradiços. Imaginemos o gesto da superproteção de um filho. Proteger e dar segurança é normal e natural. Porque esse quesito entra também no kit de boa educação de um filho. Proteger demais e mimar um filho ou filha é tornar essa criança em futuro adulto frágil, melindrado e inseguro. Um pouco de privação, de limites, de corretivos faz parte do amadurecimento da criança e adolescente.
Privilégios e prerrogativas. Quantos não são os pais que tornam os filhos e filhas, os reizinhos e princesas da casa. Onde a criança tem mais voz e mais vez do que outras pessoas e idosos da casa. São muitos pais que sugerem não ter tido o devido preparo, ainda que empírico e de aconselhamento na gestação e construção de filhos. É a chamada geração glass (vidro fosco), não pode sofrer nenhum infortúnio e privação de nada. O melhor tênis, as roupas de grife, os melhores pratos ao almoço e jantar, a babá ou empregada doméstica é a que faz tudo, inclusive a limpeza do banheiro e dormitório de filho e filha. O celular de última geração; nas escolinhas e colégios os filhos e filhas não podem ser corrigidos. A relação se faz no sistema código do consumidor: pagou, passou.
Existe o cúmulo e extremo modelo da estultice e idiotia quando a questão e educação e relação pais/filhos. As festas de aniversários dos filhos de um ano, 2 anos, 3 anos. A suntuosidade, o luxo, os gastos e despesas com essas cerimônias dão bem a dimensão de a quantas anda a sandice do bicho humano nesses mais avançados tempos de internet e redes sociais. Que noção traz uma criança de um ano, 2 anos, com essas cerimônias luxuosas e caríssimas. E para completar os graus de insensatez desses pais, temos o pronome de tratamento dessas crianças: príncipes e princesas. Atributos que essas crianças desde pequenas vão introjetando, através inclusive de filmes infantis. Crescidas e não nobres (não príncipes e princesas, de fato) vêm o quê, a frustração, a depressão, a sensação de que foram enganadas, fantasiadas. Os resultados podem ser muito nocivos, na formação integral desse adulto.