Quando se compara o que é a política praticada no Brasil e a Política praticada em outras nações desenvolvidas, aquelas com um IDH nota máxima, a exemplo de Suécia, Suíça, Dinamarca, Noruega, Islândia, dá de se ver a distinção de joio e trigo. Simplificando, nessas nações desenvolvidas e diferenciadamente democráticas, a Política existe em prol do bem comum, do povo, de forma transparente, sem pensar em parentes e aderentes, “cupinchas” (ops, gíria coloquial) e “companheiros. Lá, diferente de cá, parlamentares andam de bicicleta, de ônibus, sem segurança pessoal, vestidos de forma sóbria e livres. Existe um convívio livre e civilizado entre homens de Estado e populares.
E aqui? Quanta diferença. Os partidos e bancadas parlamentares, dispõem dos chamados orçamentos secretos, verbas para atender os apaniguados e apoiadores, uma turma bem remunerada de assessores, até para assuntos aleatórios, inclusive o dito pejorativamente aspone =assessor de porcaria nenhuma, verbas para paletós e gravatas, auxílios de um rol de futilidades, uma folha de pagamento de gabinete maior do que muitas empresas, entre outras afrontas ao senso comum e racional de pessoas que esfalfam, laboram, trabalham duramente para a sobrevivência.
Uma peculiaridade da política brasileira são as tradições familiares de filhos e netos na sucessão de pais e avós. Lembra o que mesmo? Voltemos na História, pós descobrimento do Brasil, 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral, o “descobridor”. Na verdade, o invasor, porque o Brasil já existia com o povo indígena, o seu habitante nativo. Na sequência o que fez D. João III, rei de Portugal? Capitanias Hereditárias >Sesmarias>Donatários. Para “bem administrar” a colônia (futuro Brasil) criaram as divisões do território, 15 capitanias, e os respectivos gestores recém-chegados de Portugal, os donatários (como se governadores fossem hoje). As gigantescas terras chamadas de sesmarias. E assim, foi-se aperfeiçoando o sistema de partilha das terras, os domínios, o mandonismo. Em um uma palavra, mandonismo ou coronelismo, caciquismo, etc. O sistema patrimonialista persistiu! Pouca coisa mudou de lá para cá.
O sistema de Capitanias hereditárias destes tempos modernos, ou melhor, de tempos de República, mudou de formato. Mas, a ideia ou o funcionamento se faz parecido. Com engenhosidades diferentes, arranjos melhorados. Em lugar das Capitanias existem as dinastias políticas familiares. Hereditárias porque são vários membros com os mesmos nomes e sobrenomes. Fazem-se os duos, os trios, algumas recebem até o título de quadrilhas. Bem organizadas, em que os filhos e netos vão sendo escolados. Sucessões na política e nos domínios perpétuos.
As Sesmarias de antes são hoje os redutos eleitoreiros dos perpétuos políticos, presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores etc. São os donatários. Ou melhor, os eleitos pelos eleitores cativos e conquistados, cativados. Estas Sesmarias de hoje, em lugar de terras há as verbas, orçamentos, muitos ditos secretos, destinados aos candidatos, aos partidos políticos. Nada pouco. Milhões a cada parlamentar, a cada partido político. Somados, chegam-se a bilhões.
Um exemplo, de nome e sobrenome de Capitania Hereditária, temo-la representada pelo ex capitão do Exército, ex presidente Jair Bolsonaro. Ela forma uma espécie de Capitania no nome, nos moldes de uma dinastia. Filhos, apaniguados, parentes, aderentes, todos muito influentes nas políticas locais. Na eleição de vários donatários, ou melhor dos mandatários espalhados pelo Brasil. Assim é nossa política, assim funcionam as coisas nessa Terra que um dia se chamou de Santa Cruz, Pindorama e agora Brasil.
João Joaquim - médico e articulista do DM