Vida Boa

 Existe nos dias pós-modernos um apelo desmesurado à chamada “ vida boa”. Essa aqui titulada “vida boa” está centrada maciçamente na satisfação ilimitada dos chamados baixos instintos. É a chamada satisfação do corpo, da carne, dos reflexos primitivos como o prazer dos órgãos sensoriais digestivos, do paladar, do olfato e do desejo sexual. São enormes as massas de pessoas para as quais o prazer e a felicidade se encerram nas farras e orgias da mesa, do garfo, do copo, das garrafas, das libações etílicas, da Coca-Cola. É o comer a la pantagruel ou gargântua (personagens de obras de François Rabelais).

Essa tendência e preferência atuais se materializam e se expressam por seus praticantes nos espaços de alimentação. Longe e remoto a se fazer crítica e reparos ao gesto essencial à vida da alimentação. O que se realça aqui como tendência, nociva e animalesca, são os excessos nesses gestos. É o mesmo paralelo que se faz com uma faca de cozinha, com destinação útil, e com ela atentar contra outra pessoa e a ferir e matar (desvio de finalidade). Vejam o celular, concebido para comunicação, e dele se faz uso para a prática de bisbilhotice, golpes, factoides e delitos. Alimentos foram criados para nutrição e fonte de energia, não para orgias, prazeres animalescos e banalidade. Claro que se pode comer com prazer; mas não deve fazer da comida um gesto de dela adoecer e até morrer. Isto é um fato.

As praças de alimentação em shoppings e outras casas de comércio e diversão são demonstrações vivas e dinâmicas do quanto a “vida boa” das pessoas se encerra nesses prazeres olfativos e digestórios. Os rodízios, os churrascos, o cardápio de tudo quanto se pode de atrativos são exemplos concretos desses projetos e desejos das pessoas. É o comer pelo simples comer. Não basta se alimentar, há que se empanturrar dos galetos, de galinhas, de vaca, de porco, de gorduras, massas, mandioca, macarrão, doces e bebidas em profusão.  Santa Edwiges!

Ao certo e de concreto, essa chamada “vida boa” dos tempos pós-modernos traz uma ilusão e engano às pessoas. É o rebaixamento do gênero humano à condição dos animais inferiores, aos baixos instintos de apenas existir, viver, sobreviver, conservação da espécie, transmitir os genes. Nada além! Basta ver e refletir.

Educação é uma estratégia esquecida da sociedade moderna. Existe a falta dessa conscientização nas famílias, dos pais, dos tutores, das escolas, das oficinas de aprendizagem. A crianças, desde as primícias da vida devem ser estimuladas, ensinadas em desvendar o mundo, em desvelar os fenômenos da natureza, da física, da Química, da Biologia, das Ciências Naturais. E isto tem sido deixado para um segundo plano, ou exclusividade para as escolas que adotam essas diretrizes! Porque muitas escolas oferecem apenas o compromisso de um currículo ultrapassado, de um bê-á-bá básico e o compromisso de aprovar os alunos. Faltam laboratórios, experimentos, estímulo para o aluno ver, testar e aprender com a própria natureza.

A verdadeira e legítima Vida Boa, deve estar centrada no conhecimento, na sabedoria, no aprendizado, na descoberta e compreensão dos fenômenos à nossa volta. Por que a água ferve? Por que ao cozinhar um ovo e uma cenoura, por que o ovo endurece e a cenoura amolece? Fenômenos naturais! Como, quando e por que? Estas são perguntas que muitas vezes uma criança, um adolescente faz aos pais, e eles negligenciam. Ou porque não sabem mesmo ou vê nessa curiosidade uma dúvida fútil, inútil, infantil! E não é! Conhecer e mais saber é melhor viver. O conhecimento e sabedoria constituem um patrimônio imaterial imperecível, que ninguém e nenhum revés nos tomam. Pense nisso e tenha de fato uma Vida Boa. O conhecimento, a sabedoria, a boa curiosidade tornam a vida mais ética, mais bela, mais estética. Esta sim, é a melhor “Vida Boa”.

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