NAO ADESÃO a dietas e terapias

 “Na literatura, observa-se que o conceito de adesão é utilizado de múltiplas formas, aparentemente distintas. Os termos adesão (adherence) e obediência (compliance) têm sido usados para designar o grau de coincidência entre os comportamentos do indivíduo (paciente ou cliente) e as recomendações terapêuticas do profissional da saúde (Epstein & Cluss, 1982). O termo obediência, no entanto, é geralmente adotado por profissionais que consideram a pessoa enferma como passiva, frente ao tratamento, não sendo corresponsável pelo estabelecimento do próprio plano de tratamento. Nesse caso, o não seguimento das recomendações profissionais é entendido como uma desobediência às prescrições, um desvio de conduta do paciente”. Antônio Bento Alves de Moraes- Faculdade de Odontologia de Piracicaba SP

São vários estudos pertinentes à questão da adesão a tratamentos continuados, a terapias, psicoterapia, uso de medicamentos para doenças crônicas ou incuráveis. E aqui faz-se uma distinção dos termos doença crônica e incurável. Nem toda doença crônica é incurável; exemplo a moléstia de Hansen (antiga Lepra, termo pejorativo, antigo) é uma doença crônica curável, a sífilis pode cronificar e se curar. Uma neoplasia maligna é uma doença incurável e crônica, porque pode ter vida longa, de anos.

Feitas essas distinções, discorramos sobre a questão da não adesão a muitas condições de saúde, a um estilo de vida insalubre, a diversas doenças crônicas. Para melhor assimilação, falemos dos exemplos mais encontradiços como paradigmas. A hipertensão arterial primária (ou essencial, ou hereditária, de causa poligênica) é um modelo bem consistente do quanto tem o comportamento ou comodismo da não adesão ao correto tratamento.

Quantas milhões de pessoas que podem ser assim dividas: A- aquelas que sequer sabem do diagnóstico porque não possuem o hábito de ir ao médico; B- aquelas que cientes do diagnóstico e orientação médica usam os medicamentos de forma inadequada, em baixas doses, porque para cada doença não basta apenas usar o medicamento, mas na dose eficaz; C- aquelas pessoas que cientes do diagnóstico se tornam não aderentes ao tratamento.  

E vêm os motivos, os mecanismos psíquicos e comportamentais da não adesão a muitos tratamentos de condições mórbidas crônicas. Como os modelos de hipertensão arterial, de um diabetes tipo ii, de um colesterol ou triglicéride alto e outras doenças silenciosas, assintomáticas, como as citadas. E aqui já estão as razões da não adesão. São doenças que não geram dor, insônia, falta de ar, cefaleia, nenhum mal-estar; são silenciosas. Por isso as pessoas portadoras tendem à displicência, ao comodismo, à zona de conforto de supor que se não sentem nada, para que tratar! Ledo e ingênuo engano, porque silenciosas, mas de alta morbidade e sujeitas a desfechos fatais. No mesmo bojo estão o sedentarismo, o sobrepeso, os graus variados de obesidade.

E para fecho e enquadramento de matéria do comportamento da Não Adesão, temos uma terapia campeã, de todos os tempos, de toda cultura e de todos os povos. A dietoterapia (o hábito alimentar). E para quê? Em geral para redução de peso, como adjuvante à uma preparação física, a uma doença crônica como doença renal crônica, diabetes tipo ii e outras. Classicamente, o paciente sedentário e obeso que tem preguiça de uma atividade física continuada e aderente.

Ele (ou ela, madame, jovem, muita vez pré cirurgia bariátrica), vai ao nutricionista e de lá sai com uma dieta prescrita, refeições e balancinhas, tudo pesado. De começo, disciplina militar, adesista admirável. Mas, com data de validade. Em poucos meses a pessoa desiste, e tudo volta ao marco zero. Somos humanos, e como tais tudo se explica. Restrição, disciplina, dieta, proibição, vida regrada e moderada; atitudes para poucos.  

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