Metalinguagem de um congresso

 

Como médico e estudante (dever ético do bom médico) busco participar dos congressos culturais e de especialidades médicas. Participei dia desses do xxxii de cardiologia goiano, 26-28 outubro 23. E aqui registro algumas tintas, notas breves, uma visão paralela desse evento científico. Exato isto, muito mais científico que profissional e prestacional, tanto ao médico cardiologista, categorizado como médico de espírito médico (o que escuta, ouve e examina o paciente), e que presta um serviço na solução das dores, das angústias, do que molesta, do que constrange, invalida e mata enfermos, doentes; sejam esses no âmbito ambulatorial, laboral ou institucionalizado.

Dos temas abordados no congresso goiano de cardiologia. Muitos dos temas abordados, caem majoritariamente em uma mera ficção científica, em se falando de Brasil. Porque poucas pessoas (SUS e planos de saúde), possuem recursos para fazer frente aos custos do procedimento.  E mesmo com amparo judicial, onde surgirão as custas, ou via defensoria pública, o paciente corre o risco de não acesso aos insumos, medicamentos, procedimentos, porque todos de alto custo e se urgente até morrer antes. Daí se conclui, qual o sentido e utilidade de perder tempo e audiência dos congressistas com essas temáticas? Sem sentido.

 

Um pormenor que me chamou a atenção, a forma de apresentação. O “data Show”, as projeções, os slides. A maioria em Inglês. Reproduções fieis (bom que sem viés) dos trabalhos, ensaios e pesquisas produzidas e editadas nas revistas científicas. E então o palestrante tem 12 ou 15 minutos para sua fala. Já se vê, o quanto para um aprendiz se torna muito inócuo e pouco profícuo tal exposição. Tendo-se em conta, de novo, o caráter ficção e uma plateia de estudantes e recém-formados. Ou mesmo veterano buscando informações atuais que sejam úteis, práticas e beneficentes ao paciente, razão maior de qualquer Medicina.

 

Da qualidade e atrativos dos slides, projeções, vídeos, imagens, exames invasivos ou não, registros gráficos, tabelas, algoritmos, estatísticas, etc. etc. Imaginemos as imagens de Astronomia, da NASA, das naves espaciais, das altas resoluções do cosmos. Ou os filmes de avatares, senhor dos anéis. Et tal. De fato, e inconteste, os resultados de exames de ressonância magnética, os escores de cálcio. Tudo digitalizado, nos parece outro planeta. Muito além de um mosaico caleidoscópico e real. Porque são exames top 10, de ponta. Padrão 10.

 

Novamente a pergunta? Quantos brasileiros têm acesso a esses recursos belos, prodigiosos, estéticos e digitais? De precisão nano ou milimétrica? Talvez 1%. Aliás, um procedimento lá apresentado foi repetido pelo expoente cardiologista: cerca de 1% de todos no mundo, é a fração contributiva do Brasil. Pelo alto custo!

Por último e concludente: os palestrantes. Com boas e excelentes exceções. Não a regra maioral. Os congressistas palestrantes, em geral se repetem. Nativos e alienígenas. Trata-se do chamado efeito interna corpo. São bem comezinhos e familiarizados. Efeitos Fidelis, influência de fideicomisso!

Agora, de forma bem psicanalítica, buscando postulados e cânones de Esculápio e Galeno. Em meio alguns subgrupos de expoentes, sobressaiam, como sempre com ares e meneios muito professoral, os doutos e professores, convidados honorários, Narciso e Vanitas. Esses tais e quejandos “luminares”, os que nunca perderam os atributos retóricos que sobrelevam aos demais comuns. Na aproximação com referidos doutos e sapiens, eles como que se mostram bem professoral; oh, estou aqui, eu, a sabedoria e você aí, a sensaboria. Eminentes, preeminentes e altaneiros doutos, narciso e vanitas.  Ao fim, e ao cabo, um mote ou glosa derradeira para esses – memento more-

 

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