Passeava eu por uma reserva natural, composta de plantas, arvores, relvas, e uma infinidade de vidas. E ali, deparei-me com uma amiga. Aquela pessoa de papo aproveitável e atrativo. Porque esta é uma realidade de hoje. Há gente que se aproveita tudo de sua fala e diálogo. Há outras que cumprimos nossa cidadania e civilidade cumprimentando-as apenas, para não encompridar a conversa. Existem gentes de variados quilates e categorias, no que tange aos atrativos sociais e intelectuais.
E assim, nesse encontro encenamos após os costumados cumprimentos, comentários informais sobre o mundo de hoje. Mais especificamente sobre a juventude pós Internet e redes sociais. Internet serve como um marco divisor social e cultural. Quantas vezes eu referi, tal fato, tal geração, tal cultura pré e pós internet. Se quer em época, pré anos 1990 e pós anos 1990. Para melhor orientação temporal e espacial.
As considerações partiram dessa amiga. E referiam-se aos apegos e amor dos filhos aos pais. Na sua análise, muitos filhos e filhas têm o chamado apego e consideração aos pais movidos que são pelo desejo material e monetário. Atentem-se bem para o termo, desejo e não necessidade. Porque basta diferenciar o que seja necessidade e desejo. Existe a necessidade de itens de sobrevivência. Ou seja: alimentos, higiene, vestuário, moradia e insumos de saúde. Muitos itens e posses passam ser desejos, uma bela moto, um smartphone de última geração, um carro do gosto, um perfume, uma roupa de grife (desejos).
Na oitiva e diálogo com essa amiga, eu lembrei de uma frase
lapidar do dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980) sobre essa
relação inescapável: “ o dinheiro compra até amor verdadeiro”. No que ela (essa amiga) concordou, sendo ela mesma o
próprio exemplo com dois filhos homens. Momentos em que ela se fez mais enérgica
com um desses filhos, e o fez se dedicar mais arduamente a estudos, a escolhas
de carreira, a se responsabilizar pelo seu futuro. E hoje, esse filho de suas
admoestações se tornou um gestor bem-sucedido na área de Direito Empresarial." Quem Ama Educa". frase pedagógica.
E assim, são muitos outros cenários da vida, onde as relações humanas são temperadas e administradas, afetiva e interessadamente por dinheiro, por patrimônio, por qualificativos profissionais e outros atributos sociais e estabilidade econômica. Lembremos para consistência e argumento de como se davam por tradição os casamentos dos jovens. Muitos eram os casamentos mediados pelos pais. Era o poder patriarcal, de indicar os noivos e noivas! Qual a razão maior: manter e somar o patrimônio das famílias (dotes esponsalícios).
Em tempos pós internet, pode-se dizer que continua esse elemento catalisador e fundante de muitas relações conjugais, de casamentos, de uniões até temporárias, de maternidade, de geração de certos filhos em “pseudocasamentos” de celebridades milionárias, etc, etc. etc. ,
O certo e bem sabido e assistido é que de fato, muitos são os filhos, namoradas, cônjuges, filhos nascidos de mães e pais solteiros que trazem esse ingrediente, do poder monetário e patrimonial de um dos envolvidos. Bem mais vistos quando se fala do homem, do artista, do atleta e empresário. O que detém conta bancarias repimpadas de dinheiro, bens materiais bem ostensivos. Quantas não são as belas jovens e mulheres que querem se envolver, “casar” com esse ricaço e se tornar barrigas afetivas desses tais e quais. Quantas não são os assédios “afetivos” e sexuais nesses casos? As estatísticas se perdem nessa normalização e naturalização. Então, não estava errado nosso famoso dramaturgo: “dinheiro compra até amor verdadeiro”.
João Joaquim - médico e articulista