Parece até ironia, mas a questão aqui discorrida, o engasgo e asfixia por alimentos deveria ser estudada em disciplinas de ética, de deontologia, de relações de civilidade e higiene, de nutrição e saúde digestiva. E não esquecendo a questão médica, quando ocorrem esses acidentes do hábito de se alimentar. Mas, por que de interesse da ética e civilidade os nossos tão useiros e vezeiros gestos de se alimentar? Basta ter em consideração, todos necessitamos de comer e beber para sobreviver. Se é um hábito praticado e obrigatório para todos, então deveria haver normativos, regras, recomendações. Uma espécie de bula ou manual de como se alimentar.
Basta fazer um paralelo com
outros hábitos. Tome-se a prática de atividade física, os exercícios, sejam
eles aeróbicos ou isométricos (musculação). Existem regras, manuais,
indicativos do que fazer adaptado às condições anatômicas, fisiológicas ou
patológicas e etárias. Aplicadas às pessoas e quais exercícios fazer. E basta
ter em mente, que exercícios físicos não obrigatórios para a vida, como o são
os alimentos. Ainda nesse paralelo, muitos e muitas sofrem os efeitos dos
exercícios mal prescritos e praticados, várias são as mortes decorrentes da não
observância e avaliação médica e com um educador físico para início de qualquer
atividade física, com o objetivo terapêutico, aquisição de performance
muscular, controle de peso, competições etc.
Seriam mais de 30 dicas de como
não ter engasgo ou asfixia por alimentos. Vão aqui umas 10 dicas, por questão
de objetividade e exercício dessas regras. Começa por saber que se come como um
expediente nutricional e não casual. Por farras e orgias. Há uma degeneração
desse hábito. A maioria come por prazer e regalo. Não que se censure o prazer
do comer. Mas, deve ser aliado ao comedimento, à dosimetria nutricional. Porque
há situações em que o sujeito come tanto que depois precisa vomitar e excretar
o que comeu. Aí vem o sal de fruta, os digestivos, o sonrisal. Não pode.
Ao se alimentar, mastigar bem e
silenciosamente cada bocado de comida, pequenas quantidades de cada garfada ou
colherada. Nunca conversar durante a
mastigação; há nesse hábito sem ética (ou sem etiqueta) um conflito de interesse,
o degustar e o falar, não combinam. A pessoa deve alimentar sempre sentada,
nunca em pé, andando ou apressada. Recomenda-se não ingerir bebidas no ato
alimentar. As carnes, alimentos mais sólidos devem ser mastigados em pequenos
pedaços ou porções. Nunca, mas nunca engolir os alimentos sem uma boa
trituração oral. Se a pessoa está à mesa com outras pessoas, como proceder se
inquirido ou ao conversar. Acene ao interlocutor e peça um tempo. Mastigue
primeiro, deglute bem o alimento, depois responda à pessoa inquiridora. Por
isso a importância de nunca colocar muito alimento de uma vez na boca, se
estiver compartilhando um lanche, uma refeição qualquer.
Foi o que ocorrera em um caso
recente de um rodizio de churrasco. Um jovem, desse autodeclarado bom de garfo
e copo, pôs-se a comer tudo quanto era assado e grelhado oferecido pelos
garçons, entremeado de cervejas e temperos dos quentes. De repente, o bom
gourmet sentiu sufocamento, perda de fala, faces rútilas e afogueadas,
desespero, chame um médico, o Samu, o socorro demorou e o cliente não resistiu
e morreu asfixiado, por obstrução respiratória.
Não brasil são mais de 200 mortes
por ano por acidente de engasgo e asfixia e aspiração alimentar. Os lactentes
são um grupo de alto risco, por engasgo e aspiração de leite do peito ou
mamadeira. E para as crianças de baixa idade, lactentes, existe uma orientação
especial. Ficam aí essas recomendações, do comer por prazer e se suster, mas,
tendo em conta uma postura de gente informada, bem formada e com noções de
etiqueta nesse vital hábito, de compartilhar alegria e confraternização. Mas,
com gestos, atitudes e hábitos que temos de um animal inteligente, hábil,
social e fraterno. Ética e etiqueta em todos os momentos, isolados ou
coletivos.
OS RISCOS DE ENGASGOS
Lendo noticiários no período
matinal, deparei com duas notícias atinentes a hábitos alimentares. Seria
hilariante, se um desses relatos não fosse trágico, porque foi exatamente isto
que ocorrera a um jovem no interior de São Paulo. O relatado e noticiado é que
referido jovem estava a se refestelar de vaca e carneiro em um rodizio de
carnes em sua cidade, se engasgou e morreu. O socorro não lhe chegou a tempo.
Houve ainda outro relato de
uma senhora que também se engasgou, no curso de uma refeição habitual no estado
do PR. Não faleceu, mas houve ali momentos de penúria, pânico dos
circunstantes, e um médico presente, fez-lhe as devidas manobras (manobra de
Heimlich, ou tração abdominal) e a paciente se salvou. O engasgo pode resultar
em grave asfixia de vias aéreas, que se o socorro não for feito de forma
correta e urgente, morre-se desse acidente alimentar.
A menção a esses dois
acontecimentos é o mote para esse sucinto artigo a propósito de nossos hábitos
higiênicos e alimentares. Essas duas necessidades ou hábitos são tão
significativas nas relações humanas, na saúde e vida das pessoas, que deveriam
constituir em: primeiro, um dever das famílias em instruir os filhos ou
tutorados (crianças sob cuidados) quanto ao expediente de se alimentar, o que
comer, como comer, o ritmo de se mastigar, a quantidade etc. Em segundo plano,
se constituir matéria escolar do ensino fundamental, e ser um treinamento e
prática escolar a vida inteira. Como tarefa de casa, as famílias devem assumir
esse papel social, civilizatório, ético, sanitário e fraternal.
No tocante à higiene pessoal,
com os objetos de uso pessoal e ambiental. A higiene lato sensu, se reveste da
mesma importância e peso na estética, na ética, na saúde, nas relações humanas
e vida das pessoas. Quer exemplo maior e mais poderoso do significado da
higiene no ritual de uma cirurgia! Geral ou odontológica. Os rigores de
assepsia, isolamento, desinfecção e paramentação são exemplos robustos,
inquestionáveis da importância da higiene. Basta imaginar os riscos da temível,
da morbidade de uma infecção hospitalar. Higiene é tão importante que deveria
ser especialidade médica, e não somente uma disciplina para formandos de odontologia,
enfermagem e médicos.
No concernente a Dietética.
Esta requer a participação multidisciplinar pela sua complexidade. Tão
importante que surgiram as especialidades que cuidam da alimentação. A Nutrição
e Endocrinologia (Nutrologia), a Puericultura; são exemplos do valor dos
alimentos na saúde, na qualidade de vida e vida das pessoas. Vem então uma
emblemática pergunta ou dúvida. Por que o hábito alimentar se tornou tão
vulgar, tão banalizado, popular e degenerado em nossa sociedade? Respostas:
Uma razão é a exploração
industrial e comercial, mercadológica e consumista dos exploradores do gênero
alimentício, indistintamente. Tanto as fábricas e o comércio exploram essa
debilidade cognitiva, gustativa e prazerosa das pessoas. Os alimentos então passaram
a ser não um meio nutritivo, reparador de energias e células de nosso
organismo. Não e não! A dieta das pessoas passou a ser um status social. Quanto
mais chique o prato mais uma demonstração do poder aquisitivo, de riqueza, de
bom gosto.
Neste sentido, entra a
característica do efeito manada ou rebanho de que sofrem os humanos. Seguir um
marketing, uma propaganda, um slogan, um gosto da onda e da moda, uma placa e
anúncio do bom churrasco, da boa pizza, do bom sorvete, do pão de queijo. As
pessoas comem orgasticamente. Os rodízios de qualquer comida são demonstrações
dos enlevos e sandices e insanidades mentais das pessoas. Comer, comer,
empanturrar, embriagar de cervejas, vacas, pizzas, gorduras, massas e galinhas.
Ressaca? Que me importa! O gostoso foram os momentos de orgia e orgasmo
digestivo. A la pantagruel ou gargântua. Depois, nos 2 dias seguintes de
ressaca tomo os antienxaquecosos. Nos hábitos alimentares e de libações
alcoólicas de nossa era pós moderna, os humanos satisfazem o chamado apetite
cínico (ou canino). Saciada a fome, vêm as orgias de comida e cervejas. É nesse
prazer que há os riscos de até o engasgo, asfixia e morte.