Quando põem a pensar os inventores, os criadores de toda obra tecnológica ou artística o que buscam esses cérebros é primazia, a perfeição, a excelência de suas obras, produtos e tecnologias. O que se vê nesse espírito, nessa busca de criação e invento é a utilidade, a funcionalidade pronta e qualitativa desses resultados da inteligência, da cognição e superação benfazeja do homem a serviço de outras pessoas e sociedade. Para se chegar a um padrão de perfeição, quantas horas foram dedicadas a esses resultados, quantos testes de função, beleza, vida útil, resistência ao uso? Assim, se pensa numa máquina de uso pessoal, um carro, um objeto digital. E mesmo uma obra artística, uma invenção qualquer.
Vamos imaginar a título simbólico
que algumas fábricas de equipamentos, de utilidades várias, domésticas,
industriais, em saúde como exemplo; e elas se propusessem a fabricar alguns
produtos com defeitos físicos e funcionais. Como modelos: microscópios óticos,
medidores de pressão, dosímetros de glicose para diabéticos etc,; Fora da saúde, alguns automóveis com déficits
funcionais, aviões de carreira, paraquedas, etc. E então, ao deparar esses
aparelhos, esses equipamentos, os comerciantes de tais produtos, os
consumidores, fossem informados. Nada com logro, com ludibrio, com dissimulação
ou negócio ardiloso, às claras, às escancaras, tudo escrito e documentado. Constantes do manual de instrução, os
defeitos.
É bem nítido imaginar quais
seriam as reações dos comerciantes ao revender tais e quais produtos, e quais
semblantes e espanto dos clientes consumidores. Adquirir este e aquele bem,
aquele equipamento com avarias e defeitos funcionais, porque está expresso no
manual, portanto até sem garantia da funcionalidade ou não. Alguns desses
referidos bens e aparelhos, com a condição de não consertável, irreparável. Que
tal, se deparássemos com essa condição, esse contexto mercantil e negocial? Dá
para imaginar!
Vamos abstrair do fabrico de
produtos e equipamentos industriais e imaginemos outro contexto da vida humana.
Porque tudo envolve vidas humanas, e elas muito importam, como lembrado na
morte executada de George Floyd nos EUA. Vidas negras ou brancas importam
sempre. Quando um pai e uma mãe decidem ter um filho, alguns desses ou muitos,
não sabemos de números, se preocupam da possibilidade de vir alguma criança com
déficits anatômicos ou sindrômicos. Como no risco de uma síndrome de Down,
distrofia muscular, uma cardiopatia grave etc. Algumas sementes ou gametas não
trazem a garantia plena de higidez na geração final de seu produto. Lei geral da Natureza. Dessas inevitáveis
leis e probabilidades decorrem a preocupação de muitas pessoas, quando decidem
ter filhos.
O que pretendem e desejam os
genitores de qualquer forma de vida, vegetal e animal? Que os rebentos, a
prole, os descendentes continuem o desígnio maior e sublime de vida, vida em
abundância, com saúde, com vitalidade, com anatomia perfeita (seja vegetal e
animal) e por último, a finalidade suprema de todas, felicidade plena. Assim
são enormes as estatísticas de pessoas, de gente bem pensante, que bom uso faz
de suas faculdades cognitivas, morais, éticas, neurobiológicas e psíquicas. Não
sem razão, repita-se, quantas não são as pessoas, que mesmo em plena higidez,
saúde de ferro, física e mental, ainda cismam e vivem a ansiedade de gerar uma
criança com alguma déficit anatômico ou portador de alguma síndrome que traga
limitação, dor física e moral,
sofrimento, retraimento, desadaptação social ou laboral e mesmo,
deploravelmente, discriminação escolar e social, bullying, rejeição, carência
de suporte a vida inteira!
Agora uma constatação para uma
detida e introspectiva reflexão. Quantas
não são as pessoas que embora sabedoras do risco de ter uma criança com alguma
deficiência física, cognitiva ou mental, ainda assim, com a certeza desses riscos,
porque a Medicina oferece esse aconselhamento e previsão! Ainda assim, essa mãe
ou esse pai geram esses filhos! Aqui, não se têm as respostas prontas e
emitidas sobre essa documental e vista realidade e fato. O que se deixa aqui é
apenas essa profunda e pertinente análise de cada um de per si, acabada a
leitura desse artigo reflexivo e comparativo com o enunciado na inicial.
Deixemos aqui a título dessa reflexão esse exercício para pensar. A um casal,
como modelo, a Medicina, aconselha: com base no perfil de ambos os cônjuges, se
tiver uma criança, chance percentual de ela nascer com uma cegueira
hereditária, uma síndrome de Down, uma distrofia muscular, um grave déficit
anatômico. Reflitam e pensem! Apenas isto, para pensar!
Joao Joaquim – médico e
articulista DM