De repente vêm surgindo ramos de estudos sobre alguns sentimentos humanos. E muitos desses ensaios, pesquisas sociais, antropológicas e psicológicas, trazem como gatilho a crise humanitária provocada pela pandemia da covid 19, iniciada lá em dezembro de 2019. Claramente, os sentimentos de solidariedade, de fraternidade, de amor pelo próximo e mais seletivamente do sentimento de amor filial ou parental sempre foi estudado e compreendido. Todavia, a aguda crise sanitária, de sofrimento, de invalidezes, e mortes pela covid realçaram esses debates; mais especificamente voltados à natureza, aos mecanismos íntimos, genéticos do cuidado.
Trazidos então à baila, torna-se
oportuno uma breve resenha sobre as interpretações, a análise dos cientistas
sociais e de psicólogos e psiquiatras sobre tão sensível e instigante questão,
a do cuidado do outro. O porquê de muitas pessoas se dedicarem tão amorosamente
a alguém, muitas vezes sem vínculo parental com esse indivíduo carente, frágil,
doente e incapaz para as funções mais elementares da vida como a higiene
pessoal, o uso correto e seguro de medicações prescritas, as refeições e
hidratação, nos momentos de fome e sede? Eis a natureza e variações desses
cuidados.
Um fator envolvido nos sentimentos de
generosidade e no expediente do cuidado do outro é o genético. Nessa questão há
como que um consenso de sua participação, como cristalinamente observado nas
características biológicas, no fenótipo e anatômicas da pessoa. A semelhança e
identidade entre um filho e os pais são muito grandes. Assim também se comporta
a genética no referente aos sentimentos e no caráter do filho. Muitos desses
traços são compartilhados geneticamente (genoma em ação).
Entretanto, em que pese os genes
contribuírem para o bem e para o mal em muitas características biológicas e
somáticas, e mesmo para a conduta e caráter do sujeito, quando se estuda os
sentimentos da generosidade e do cuidado, pesam muito mais e de forma
determinista (determinismo inevitável como referem os estudos) o padrão
educacional e o legado social da família ou casa onde o sujeito foi criado e
formado. E este é um ponto marcante: a um filho (a) não se dá apenas a criação,
a engorda, a constituição física biológica de saúde corporal, de beleza e
estética. Adicional e acima de todo esse investimento deve-se dar uma educação
ética, social, humanitária e moral. É a construção da pessoa, desde criança
como indivíduo cidadão (partícipe social e fraternal) com expedientes fundados
no exemplo, no ensino e prática de ética e civilidade. A formação escolar será
um complemento na formação técnica, cientifica e profissional produtiva.
Em breves termos, há como certo então
que os sentimentos de umas pessoas, em especial os parentais, filhos e filhos,
os sentimentos delas dispensados e dedicados ao outro; em especial a um pai ou
mãe incapaz, debilitado e frágil; esses sentimentos sinceros, puros e
espontâneos não são tanto inatos e genéticos. Eles resultam de como se deu a
relação com o pai e a mãe, na sua criação, no seu modelo educacional. Como
indicados nos estudos próprios, imaginemos aquele filho (a) que conviveu com um
dos pais, ou os dois pais, com o estilo de vida negligente, irresponsável,
descuidado do filho, que não teve um papel de bom educador, amoroso, protetor e
pedagógico. Imagine ainda um contexto mais gravoso, do pai e/ou mãe, na
condição de um adicto de substâncias ilícitas, castigos físicos e psicológicos
aos filhos, de assédio moral! Tenebroso ambiente a imaginar. O que esperar de
um filho ou filha, com criação e educação nessa atmosfera? As Neurociências e a
Psicologia social respondem: essa criança, adolescente e futuro adulto, se
formará com um padrão de relações com quem quer que seja, de desamor, de
negligencia, de falto em altruísmo e generosidade. Não é que esse filho ou filha,
se comportará negligente ou desamoroso por vingança. Ele assim, comportará por
uma introjeção e formação ética e moral deformada, desumana e débil em empatia
pelo outro, independentemente do laço parental. Se parente, ainda mais
reprovável.