“O Brasil não é para principiantes.” Tom Jobim- Ao longo do tempo, o adjetivo “principiantes” foi substituído por “amadores” e, assim, o ditado popularizou-se em diversos círculos e segmentos. Nunca um ditado foi tão bem expresso por esse gênio de nossa MPB. O brasil não é para amadores, tanto para quem governa quanto por quem é governado. E não foi sem razão que disseram esta outra frase: O Brasil não é um país sério.
Dita por Charles de Gaulle e/ou por um embaixador brasileiro, ela pegou porque retrata bem a natureza de quem nos governa, em todos os tempos. Nessa atmosfera do que seja o país, de antes e de agora e sempre, basta revistar os discursos de homens de Estado de idos tempos de um Ruy Barbosa, de um Quintino Bocaiuva, de um Benjamim Constant. E mesmo de escritores como Machado de Assis, de um Olavo Bilac. E mais recentemente, na História do Brasil, de um Monteiro Lobato e Graciliano Ramos. Que tal os conchavos e negociatas daqueles e de nossos tempos?
O instigante e curioso é constatar como vão se dando os fatos e feitos de nossos homens de Estado, dos homens que cercam nossas autoridades e os assessores (leiam os homens do presidente, por exemplo). Curiosas são as teses que esses mesmos homens de Estado criam para os seus ilícitos e crimes contra a humanidade brasileira. E tudo, mas tudinho mesmo fica como dantes no quartel de Abrantes. As justificativas desses agentes públicos e seus finórios e experts advogados também são uma peça de um teatro mambembe e mal enredado.
Mais instigante ainda e de despertar nossa curiosidade e estupefação são os resultados de inquéritos, oitivas, audiências reiteradas, tomada de depoimentos de testemunhas contra e a favor. Quando são apresentadas aquelas provas materiais e robustas, aquelas contra as quais se pensam irrefutáveis; os vídeos e áudios por exemplo. As explicações dos inquiridos e investigados são as mais esdrúxulas e estapafúrdias. Não! Esses áudios estão editados! Não, essas falas estão fora de contexto! Não foi bem isso que eu queria dizer. Não! Isso não é verdade! Essa expressão foi uma empáfia e nada a ver com os fatos investigados. Entre outras respostas esfarrapadas.
E as CPMI? Todos lembramos daquela que investigou as responsabilidades do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus ministros e secretários na crise da pandemia da covid 19. Amenizada a pandemia, são mais de 700 mil mortos. Não contando os incapazes para a vida e para o trabalho que a doença deixou. Segundo analistas de Saúde e Medicina, metade desses óbitos poderia ter sido evitada, não fosse os slogans, campanhas e falas negacionistas e anticientíficas dos homens que nos governam. A pergunta que fica para sempre, nada de punição acontecerá com os responsáveis pela tragédia?
E assim, vão se sucedendo as coisas, os fatos, as condutas de nossos homens de governo, as ingerências de toda ordem, as malversações de verbas públicas, os desvios de dinheiro, as perdas de insumos médicos ao custo de bilhões de reais, as obras bilionárias que não acabam, os roubos de dinheiro para escolas, as rachadinhas e suas investigações que não chegam ao fim porque alguns tribunais não deixam andar, as lavagens de dinheiro que continuam como sempre.
E melancólica conclusão: são tantos inquéritos, tantas oitivas, audiências, investigações, prisões provisórias, tornozeleiras eletrônicas, prisões domiciliares, discursos de juízes, autoridades, delegados, tribunais. E ao fim e ao termo, tudo resulta em nada, em absoluta impunidade. E os ladroes e corruptos ridentes e deitados nos produtos dos roubos e desviados. Tinha razão o nosso Tom Jobim: o Brasil não é para principiantes.