Inteligência nata e IA

 Uma questão que merece uma reflexão e muito diálogo entre os cientistas de humanidades e sociais, educadores e neurocientistas é a tão propalada e discutida Inteligência Artificial (IA). Esse sistema engenhoso e criativo vem acompanhando o surgimento da Internet e seus aplicativos, algoritmos e todos os instrumentos digito-eletrônicos. A cada dia verifica-se progresso e novidades. São recursos como cérebros computacionais, que muitas tarefas, desafios, cálculos, previsões e soluções trazem aos clientes e usuários.

Mas, fica aqui uma indagação: se os computadores podem pensar para o ser humano, podem os humanos pensar para os computadores? Porque a máquina, os computadores pensantes, a tão decantada inteligência artificial decorrem da criação do engenho humano. Nenhuma máquina ou sistema nasce por geração espontânea! Existe a criatura e o criador. Criador homem, criatura IA. Essa premissa e constatação nos trazem uma certa paz e conforto; resta uma expectativa de que o ser humano tem salvação e não sofrerá um processo de atrofia das faculdades mentais e da inteligência. O engenho criativo humano há de sobrepor e sobrepairar à IA.

Quando se compara o patrimônio da inteligência do brasileiro (pib), o que pode também ser estimado de forma geral, da humanidade, se sabe que há um declínio desse PIB cognitivo. Essa preocupante realidade pode ser documentada tomando-se um grupo de estudantes secundaristas ou universitários de agora, era digital, e de tempos pré Internet e pré telefone celular. A diferença na capacidade cognitiva, nas habilidades de abstração, do pensamento lógico e organização intelectual das pessoas de antes e pós internet não é desprezível.

Há de rememorar que a inteligência humana necessita de cultivo e treinamento. Excetuando os exemplos patológicos, todos nascemos com o mesmo potencial de inteligência. São conclusões de ensaios e estudos científicos. À medida e proporção dos avanços tecnológicos, do instrumental artificial ao alcance das pessoas, essas pessoas vão se sentando em sua zona de conforto. Pensar e criar, raciocinar e abstrair para quê? Se quase tudo já está pronto. A capacidade de abstrair, o uso criativo e produtivo da inteligência vem se tornando um atributo de guetos, de grupos, de classes minoritárias de gente. São os que para bem e bom uso fazem dos avanços tecnológicos. São exemplos o uso da internet, redes sociais e mídias digitais. A concepção e invenção desses recursos foram para o bem-estar e qualidade de vida e de produção das pessoas. Não para o  mal.

O Embrutecimento e precarização intelectual das pessoas, de brasileiros e humanos em geral, guarda certa relação com os meios de comunicação, com o acesso a escolas, a livros e outros recursos culturais. A leitura, o jornal impresso, as revistas, o livro, são instrumentos que perderam a sua majestade e importância na humanização, na alfabetização, no aprimoramento cultural das pessoas. Bem claro que os que mau uso fazem dessas invenções.

Historicamente tivemos, no início do século XIX, por volta de 1808 a chegada do jornal impresso ao Brasil (Correio Braziliense) com Hipólito da Costa (1774-1823). De começo pouquíssimas pessoas sabiam ler e tinham acesso a jornal e livros. E foi e foi evoluindo. Chegou o século 20, poucas pessoas ainda alfabetizadas. Um pulo, inauguração do Rádio, em 1922 (100 anos de independência e inauguração do Rádio no Brasil). Televisão em 1950. E chegaram melhorias nas comunicações e escolarização de jovens e pessoas. O acesso a livros, jornais impressos, revistas impressas contribuem para as pessoas pensarem, ler e treinar as funções cognitivas. Como já referido ,o livro, a leitura tornam os humanos mais humanos porque o indivíduo tem que pensar. E vem e vem. Na educação, na alfabetização, as escolas empregam livros, textos, matemática, cálculos, física e química. Tudo na base do escrever e anotar e solução de problemas.

E então chegamos na tão decantada e aclamada era digital, da Internet (para muitos infernet), redes sociais, mídias digitais, telefone celular, as mágicas telinhas, a adicção a todos os recursos e aplicativos virtuais. Ninguém gosta de livros, de matemática, de equações e fórmulas de físicas e teoremas. Tudo pronto e virtual. A mente, o intelecto e memória das pessoas vêm sendo povoados por vulgaridades, trivialidades e um rosário do fútil e do inútil. Tudinho de forma inconsútil. Estamos caminhando para uma era, a pós digital, que a leitura, o cultivo da cultura tradicional, o domínio de conhecimentos básicos de literatura, matemática, física, serão para poucos, para uma elite letrada da sociedade. Tudo o mais é inteligência artificial e pronta. Que horror.

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