Foi empreendida uma pesquisa com a finalidade de saber das pessoas a percepção delas sobre a felicidade. Imaginem, leitores (as), as respostas a esta singular e instigante pergunta, a felicidade. O que seria este estado físico e corpóreo ou mental, psíquico para as pessoas. E as respostas foram as mais diversas de se pensar. Um casamento dos sonhos, o cônjuge ideal, uma bela casa ou apartamento, um emprego rentável, fama, sucesso profissional, ganhar na mega sena. Entre outros bens materiais e poucos, pouquíssimos sucessos e felicidades abstratas. Desses, deter conhecimento, se tornar um cientista, um escritor renomado, um profissional ou artista de boa fama.
Uma visão atraente e interessante do que seja a felicidade, nós a encontramos nos ramos da Filosofia, tanto de origem oriental ou ocidental. Para nós brasileiros, mais compatível e melhor compreensível a filosofia ocidental greco-romana. Muitos foram os filósofos que se ocuparam da temática felicidade. E mesmo para leitores não aficionados e optantes de filosofia existem o plano b da Literatura. Grandes e notáveis são as obras de reconhecidos escritores que trazem luzes, encantos e preleções para uma vida feliz, para uma boa vida. Neste rol os exemplos de Shakespeare, de Machado de Assis, de Clarice Lispector, de Monteiro Lobato, de Jane Austen, de Gustave Flaubert, de Eça de Queiroz etc. obviamente que muitas dessas obras tratam da realidade nua e crua, da vida como é para a maioria das pessoas. Mas há modelos também de uma vida feliz, alegre e construtiva em muitos títulos.
Referindo então à Filosofia, grandes foram os pensadores que debateram e deixaram suas teses e conceitos de amor, de uma boa vida e felicidade. Dessa matéria ocuparam com muito apreço e precisão: Aristóteles, Sócrates, Platão, Epicuro, Marco Aurélio, Sêneca, Plotino. Uma boa leitura em matéria de amor e felicidade pode ser encontrada nos diálogos de Platão, na obra A República, no Banquete. Outro filósofo recomendado seria Epicuro com seus conceitos e teses sobre o prazer e felicidade.
Em se tratando da ideia de prazer definido por Epicuro, não se pode confundir com os prazeres, os regalos, os gozos e farras na satisfação instintiva pura e simples e pronto. Todas as satisfações se fazem de forma instintiva, sensorial. São experimentos sensitivos, de fato, benfazejos, gustativos, lenitivos. Mas, transitórios, corpóreos e episódicos. E não devem ser repelidos e contraditados. São humanos.
A concepção filosófica e epicurista de prazer é aquela entremeada e temperada de sabedoria, de contemplação do belo e do estético. Não que os prazeres orgânicos, corpóreos e instintivos não estejam inclusos na completude da felicidade humana. Eles, isoladamente, não alicerçam a nossa felicidade. Daí resulta o entendimento de uma busca e anseio maior, a sabedoria, a aliança com a natureza, com as belezas ao natural, com o significado do seja uma vida boa, bela, bem vivida e feliz.
Quando analisamos os conceitos de amor, de bem-estar e felicidade nos dias de hoje, tempos da classificada modernidade virtual e liquida (filósofo Zigmunt Bauman), era da modernidade liquida; todos aqueles filósofos e suas teorias da antiga Grécia soam como retrogradas e ultrapassadas para a maioria das pessoas. Notadamente, para as gerações mais jovens. São outros tempos e a visão e noção das pessoas também mudaram.
Existe hoje, um enorme apelo ao consumo. Vivemos sob o império do sistema capitalista e consumista material, bens, serviços para a satisfação instintiva e corpórea. São várias faces desse sistema, a um tempo alienante e apelativo com todo o seu elaborado merchandising. Há um afã, tipo de neurose para a satisfação gustativa. Comer e beber ao máximo. O consumo das aparências, de roupas belas, caras e da moda imposta e vigente. O consumo de produtos cosméticos e estéticos. O consumo da exibição, quase que o expediente de auto voyeurismo; a pessoa é o que ela aparenta ser. Fotos, mensagens, likes, curtidas, vídeos, coloridos, pratos, festas. “ Ser é ser Percebido”. Será que essas aquisições tornam as pessoas substancialmente felizes. A ver!