MENTIRAS E FACTOIDES
João Joaquim
A CPI da Covid 19, transcorrendo neste maio/2021, vem consubstanciando e dando aulas práticas e experimentais da arte da mentira. Mentir é uma arte histórica. Tanto assim que a mentira dispõe de uma extensa prole de igual importância e alcance. Como exemplos: a fofoca, a invencionice, o factoide, a pós verdade e a tão globalizada Fake News. Esta última tão significativa, insinuante e destruidora de reputações que até o macarrônico e falastrão ex presidente Donald Trump usou e abusou de seu efeito.
Na história os primeiros grandes mentirosos foram os filósofos sofistas. Eles foram contemporâneos e antagonistas de Sócrates. Os maiores sofistas gregos desses idos tempos foram Pitágoras e Górgias. Pitágoras afirmava que o homem é a medida de todas as cosias e Górgias referia a eloquência, a retórica e o argumento como poderosas armas no sentido de convencer o interlocutor, mesmo que aquelas afirmações não fossem reais e cientificas. Imagine o quanto esses filósofos não fariam sucesso se vivos hoje fossem.
Se naqueles remotos tempos gregos (400/500 a.C.) já havia o embate entre os mentirosos e verdadeiros. Imagine então em nossos dias. Essa chamada polarização está presente sobretudo no âmbito político. A vida pública e política está contaminada por mentiras, factoides, pós verdades e Fake News.
Em se falando da CPI da Covid 19, tivemos ali naquelas midiáticas e muito vistas sessões exemplos e teatralização ou arte da mentira. Para tanto são suficientes os oitivas e depoimentos de dois ex ministros: Ernesto Araújo, das reações exteriores e Eduardo Pazuello, da saúde.
Segundo conclusões dos senadores inquisidores, esses indigitados depoentes mentiram tão bem que contraditaram, contradisseram o que eles próprios já tinham afirmado em suas gestões quando eram ministros do presidente Jair Bolsonaro. Instigante e merecedor de análise psiquiátrica é o longo e fatigante depoimento do ex ministro e general Eduardo Pazuello. Relatório preliminar da CPI aponta e prova que ele mentiu 15 vezes.
Enfim, a arte de mentir, de sofismar, de produzir factoides não é para qualquer amador. O mais surpreendente no mentiroso é ele manter-se com a mesma caradura, a mesma feição impudica e cínica, sejam mentiras ou reais as suas afirmações.
Profissionais sérios do chamado jornalismo investigativo dão conta de que nossos aqui citados depoentes na CPI da Covid 19 foram treinados de como mentir, de como tergiversar, de como burlar e convencer os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito de suas versões e inverdades.
Houve nesse treinamento simulações com interlocutores no papel do Relator (Senador Renan Calheiros), do presidente da CPI, senador Omar Aziz e outros inquiridores senadores sabidamente com grande expertise na atividade de interpelação e articulação, nesses inquéritos. O treinamento para nossos dois depoentes funcionou porque muitas mentiras e contradições deles tomaram ar de verdade.