Bobos (as) da Côrte

 Muitas pessoas, notadamente aquelas que se interessam por ler um pouco de História do Brasil e Geral, já ouviram falar no personagem bobo da corte. E quem era e o que fazia esse funcionário da Nobreza, dos Reis e Rainhas. Ele era um súdito. Todavia, diferenciado porque era o único que podia provocar a graça e o riso dos nobres, com feitos e cenas dos próprios nobres. E mais, criticar os nobres sem correr risco de punição, de reprimenda e até morte! Que privilegio! Não é mesmo! Quanta inveja esse bobo ou palhaço não despertava em toda a arraia-miúda, no povileu e pobreza. Adversários, não. Porque na Idade Médica, os tiranos e nobres não tinham rivais. Não havia disputa eleitoral.  Eram absolutistas, em essência.

  esse funcionário, palhaço ou bobo da corte, detinha muito prestígio nos palácios porque vamos imaginar. O que havia de entretenimento? Não havia telefone, energia elétrica, automóveis, televisão, celular, internet e redes sociais, nem futebol, nada disso! A diversão era a caça, a pesca, o cavalgar, a glutonaria, daí os graus extemos de obesidade. Nem se ligava a obesidade a uma lista enorme de morbidades e doenças. Os nobres comiam como se fosse o último dia de suas vidas. Pouco se lixavam se era pecado Capital. Então, esse bobo da corte representava a diversão, a distensão e expansão dos espíritos, o riso, a galhofa, a pilheria, a mofa, os gracejos. E esse bobo exercia outras funções como copeiro, mordomo, companhia aos reis e príncipes.

A gente pode imaginar o quanto de bobos da corte existem hoje, nas atuais ditaduras. Com uma diferença, eles só podem aplaudir o chefe, ao ditador e seus feitos e malfeitos. Aliás, façamos uma certa justiça. Esses bobos da corte de hoje, agem da mesma forma, sendo o regime de Democracia ou Autocracia. Porque no frigir das coisas, o risco do castigo ou perda do emprego é o mesmo. Na imaginação, pense, numa ditadura da Venezuela, da Nicarágua, do Irã, da Hungria, da Coreia do Norte. Imagine o papel de capacho que esses tipos profissionais fazem. Nas entrevistas, eles mais parecem papagaio de pirata, sempre cordatos, humildes, em aplausos e concordância com tudo que o chefe, o caudilho, o democrata, o ditador arrota e ordena! Eternos capachos e bobos da corte.

O que se dissertou aqui, foi para dar vazo e entrada no que fez a Semântica com o termo bobo ou boba da corte. Em cada Idioma, a Semântica é essa parte mutável e o devir da Língua. São palavras, que vão adquirindo outro sentido e significado. Vem daí o termo, ora aqui, ora ali empregado, de nomear os chamados bobos ou bobas das cortes, coortes, famílias, grupos sociais, corporações, organismos e iguais ajuntamentos de pessoas, para os fins variados e que contam com os chamados bobos ou bobas da corte. De forma um pouco pejorativa usa-se também o termo capacho. Porque faz sentido; o capacho é aquele tapete, onde todos pisam, e este capacho está sempre ali: lhano, pacífico, sorridente, cordato, que aceita todo tipo de lixo, de emporcalhamento, de lama, de pisadas, de exploração.

Os mecanismos psíquicos e morais que explicam a gênese da relação ditador ou democrata/bobo ou boba da corte estão centrados na natureza humana. Bem explicados, embora por muitos pouco compreendidos. Na seguinte evidência: existe a natureza humana do explorador e a natureza do explorado. Quem estuda a obra de Ettiénne de La Boétie, “Discurso sobre a servidão voluntária”; tem a exata dimensão desses dois carácteres, explorador e explorado. Há o indivíduo que traz uma pulsão interior ou íntima do explorador e há a submissão inata, congênita ou por educação de ser servil, capacho, bobo ou boba da corte da pessoa que se torna humilde, cordata, subserviente do outro.

Estaca então o conferencista filósofo a ouvir a pergunta do auditório. “Então, mestre, mas como se dá na vida comum os expedientes atuais do ditador ou democrata, ou do explorador e folgado com os seus entornos de bobos ou bobas da corte? Simples e encontradiço em nossa sociedade. Tem sempre uma família, um grupo social para variados fins, onde se encontra um ou mais membros no papel de bobo da corte. O que se passava lá nas dinastias e reinos de alguns marajás ou bonzo, se passa em nosso meio.

Imagine nos idos tempos romanos ou gregos. Um parental acercava-se de outro e lascava de cara mais deslavada: dê-me cá 30 sestercios ou 30 dracmas, com a condição da devolução de 33, findo o nosso acordado aqui arrotado e verborrágico. Está impactado, fulano. Pedido feito e atendido. Vamos aguardar seu promissório! Hummmm. Deus sabe quando! Não mudou nada mesmo. Quantos e quejandos são os bobos das cortes familiares e os democratas folgados e exploradores! Porque há sempre bobos e bobas das cortes na área.

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