A pandemia da obesidade

 Entre tantos estudos que se lê, mais um sobre a pandemia da obesidade, pandemia porque trata-se de uma doença grave, ubíqua, que atinge países ricos e pobres. Os muito pobres ainda sofrem de desnutrição, pela fome, e os obesos, dessas nações pobres como da África porque ingerem alimentos muito calóricos (farinhas, amidos, carboidratos) e poucas proteínas de boa qualidade nutritiva.

De forma simplificada há essas duas classes de obesos: os ricos comem tudo que os pobres comem (farináceos, macarrão, massas, açucares, mandioca, batatas) e mais as proteínas contidas em carnes de má e boa qualidade, churrascos, pizzas, massas, chocolates e bebidas caras, cervejas e vinhos e whisky. As pessoas de baixa renda (ou pobres) comem os alimentos muito calóricos, pingas e cervejas. O que importa é o resultado final, a mesma obesidade, com o seu terrível, nocivo e insalubre espectro de outras doenças, que matam ricos e pobres, de igual forma. Ou seja, nesse ponto, as doenças são isonômicas e democráticas, embora dramáticas!  Que triste, não!

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/obesidade-atinge-mais-de-1-bilhao-de-pessoas-no-mundo-mostra-analise-global/

Para combater com sucesso ambas as formas de desnutrição, é vital que melhoremos significativamente a disponibilidade e a acessibilidade de alimentos saudáveis e nutritivos”, comenta o autor sênior do estudo, professor Majid Ezzati, do Imperial College London, em comunicado à imprensa.

Este estudo em referência foi patrocinado pela OMS, abrangeu 195 países, milhares de pesquisadores, milhões de pessoas pesquisadas e traz muita consistência e credibilidade pelo tempo e instituições participantes. E vale a dedicação da leitura e os comentários, preocupação e alerta da classe médica, a que pertence este articulista, estudioso e interessado na quão grave e recrudescente pandemia, a doença obesidade, não na doença em si mesma, porque excesso de peso de forma direta não mata. Ela discrimina, limita a qualidade de vida, traz discriminação social, redução da capacidade produtiva e laborativa. O que de fato mata é o seu amplo espectro mórbido de fatores de risco por ela gerados.

O que mostra de mais impactante o estudo em análise, em 30 anos, a obesidade dobrou em adultos e quadruplicou em crianças, o estudo analisou dados a partir de 1990. E atenção! Pelos dados, trata-se de obesidade em estágios mais acentuados, não aquele sobrepeso leve ao ideal previsto para o chamado índice de massa corporal (IMC). Obesidade em grau de repercussão orgânica de IMC acima de 30, desnutrição abaixo de 18,5. Uma a cada 8 pessoas estão nesse grau preocupante de peso. Mais homens obesos que mulheres!

A obesidade mata tanto quanto a desnutrição, ela é uma forma de desnutrição, a que se pode dizer uma “disnutrição”. E por que a doença mata tanto ou mais que a fome, a carência alimentar? Entram as questões sociais, culturais, de conformidade, de aceitação. Um fator, porque os seus efeitos se fazem de forma paulatina, a granel, diariamente ela mata. Imagine, se mil obesos morressem a cada semana. O impacto seria maior. Tudo a granel, no varejo, aos poucos e difuso, traz menos impacto. Bem análogo às taxas de vítimas de trânsito e dos assassinatos no Brasil e outros países violentos. Assassinatos e mortes no trânsito somam 100 óbitos/dia. Só que difusamente, em vários estados; dessa forma não traz impacto emocional ou de insegurança nas pessoas. Aos poucos a sociedade se conforma e acomoda. Mesmo princípio da obesidade.

Social e culturalmente, ainda há no senso das pessoas que o indivíduo obeso, repimpado de gorduras, pneus, barriga e glúteos, fornido, forte e roliço está bem alimentado, sem fome, feliz e saudável. Existe para tanto o comércio de alimentos, supermercados, padarias, restaurantes, a propaganda, as bebedeiras, as festas. Tudo recheado e regado com comida farta, cervejas, Coca-Cola e carnes. A vida de muitas, milhares de pessoas, por um efeito manada e de apelo consumista está centrada, focada no comer e beber de forma orgíaca, orgástica e prazenteira. Comida e bebidas se tornaram como expedientes contra o estresse, a ansiedade e depressão. São como sessões de terapias gustativas e festivas. As pessoas, os convivas, os comilões vão e voltam muito mais felizes para suas patuscadas, pizzarias, churrascos e rodízios do que vão e saem das sessões de psicoterapia. Comida e bebidas trazem felicidade e prazer!

Na Assembleia Mundial da Saúde, que aconteceu em 2022, os estados-membros da OMS adotaram o plano de aceleração para acabar com a obesidade, que apoia ações de alcance nacional até 2030. As principais intervenções são:

  • Apoio às práticas saudáveis a partir do 1º dia, incluindo promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno;
  • Regulamentação da comercialização nociva de alimentos e bebidas junto das crianças;
  • Políticas de alimentação e nutrição escolar, incluindo iniciativas para regular a venda de produtos ricos em gorduras, açúcares e sal nas proximidades das escolas;
  • Políticas fiscais e de preços para promover dietas saudáveis;
  • Políticas de rotulagem nutricional;
  • Campanhas de educação e sensibilização do público para dietas saudáveis e exercício físico;
  • Normas para a atividade física nas escolas;
  • Integração dos serviços de prevenção e gestão da obesidade nos cuidados de saúde primários.

Estas boas práticas de saúde cabem então aos governos e governantes em suas jurisdições, União, Estados, Munícipios. O que se vê de pouco eficaz e estabelecido por esses agentes públicos! Que triste, não!

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