viver de auto ou aloengano

 Um fenômeno psíquico e social com o qual nos deparamos muito e que acomete muitas pessoas é o autoengano. Que por definição é a pessoa ter a crença e convicção de que alguma coisa é real e certa quando não passa de uma mentira, fantasia e falsidade. O curioso e instigante é que existe de igual natureza o aloengano. Mas falemos primeiramente no autoengano. Quantas não são as pessoas, as gentes, os indivíduos que de boa-fé vivem e cultuam algum autoengano? E quantas não são tantas pessoas que são vítimas, lesadas, continuamente esbulhadas em suas energias, em suas economias, em seus ativos patrimoniais e pecuniários por outros indivíduos dados, afeitos e propensos ao ludíbrio, ao logro, à dissimulação, à folgança; em uma palavrinha, ao aloengano. Termo não usual, algo como heteroengano ou engano do outro. Enganada pelo outro, passado para trás.

O chamado autoengano se dá nas mais diferentes relações humanas. Ele pode se estabelecer não por ingenuidade ou falta de crítica honesta e sincera de quem expressa esse fenômeno psíquico e social. Tome-se o modelo bem comezinho nas relações de amizade, afetivas; sejam estas conjugais, de namoro ou genéticas. De um irmão com irmã, de pais e filhos. Segundo estudos sociais e psicológicos bem consistentes as mulheres são mais afetadas pelo expediente do autoengano. E não sobreleva nada de discriminação. Talvez até uma causa ligada à constituição genômica e hormonal. A causa do autoengano não ressurge, como referido por ingenuidade ou insuficiente crítica da pessoa acometida deste fenômeno. Na maioria das gentes, elas assim vivem e acreditam em fatos e pessoas; agem de boa-fé e sem outras considerações e dúvidas sobre mentiras e pessoas falsárias.  

Saindo de teses, para melhor entendimento, os exemplos muito observados na sociedade. Nas relações conjugais; imagine aquele marido ou mulher que apresenta certas atitudes fora dos padrões de normalidade para um convício ético, civilizado e solidário, tanto no âmbito conjugal e com terceiros. E não uma vez. Mas, esse cônjuge, assim praticante o faz, de forma reiterada e recalcitrante.  O cônjuge suportante, o tolerante, quando inquirido por terceiros, por parentes, etc.; faz considerações e defesas de que aquelas atitudes são normais. Há sempre uma tolerância, uma justificativa para os desvios éticos do outro, embora essa pessoa nesse autoengano (vítima), seja incapaz de tais práticas (ou seja, uma demonstração do autoengano). Este, um destaque representativo do autoengano, o fato de a pessoa se expressar em defesa do outro pelos desvios e ilícitos, mas ela (defensora) ser incapaz daqueles feitos e atitudes do falsário, do ludibriador, do folgado, do finório, do caloteiro, do mentiroso, aproveitador e tratante.

Vamos imaginar um outro exemplo, e este é encontradiço e muito consistente. Do filho ou filha, ou um parente de alta estima e que na consideração da pessoa do autoengano, é superestimado em suas virtudes, atributos sociais e intelectuais, como estudante, profissional ou atividades que valham, conforme a performance esperada. E esse ou essa tal pessoa, na avaliação e parecer da pessoa do autoengano é sempre posta em certa escala de valores muito acima dos demais.

Imaginemos outros exemplos e expressões muito encontradiças de pessoas portadoras do autoengano. Nas relações pais/filhos e parentais diversas ou mesmo de amizades. O fato useiro e vezeiro de ter em alta avaliação fulano ou sicrana, como pessoa de alto QI, altos rendimentos nos boletins escolares, altas notas; sejam ensino médio ou superior. Pergunta módica de crítica mediana? Onde estão as provas cientificas, técnicas e resultados de que boas notas e aprovação escolar, signifiquem tratar-se de gênios da raça ou pessoa superdotada e qualificativos intelectuais e técnicos extraordinários? Onde? Precisamos saber os caminhos dessas pedras e gemas. Enfim, viver no autoengano é como ter olhos para ver e não ver direito, ouvidos para auscultar e não ouvir certo. Só isso! Mas, além de uma comichão crítica, dá um dó! Ah, isto dá.

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