OS DONOS do poder

 Assistindo ao que se passa na Política como governança hoje no Brasil, é normal que perguntemos: a Política é a arte de administrar e dirigir uma nação, um país, um povo. Esta é a mais simples definição dela, Política como Ciência e sistema administrativo desde os seus primórdios. O que pensariam se vivos fossem um Raymundo Faoro (1925-2003) e um Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982). E mais remotamente, um Platão, autor de A República?

 Faoro escreveu entre outras obras, Os Donos do Poder; e Hollanda Raízes do Brasil. Faoro, descreveu de onde e quando vieram a corrupção e o patrimonialismo; Hollanda disse que o brasileiro é um povo cordial (passivo, intempestivo, imprevisível, passional sic).

Quando se fala por exemplo em política, fica mais fácil saber o que seja porque, sua concepção está lá registrada, desde sua origem. Mas, e aqueles que a exercem, o que é ser político? Quais são as condições, as exigências fundamentais para ser um agente público, especifico de política de Estado? Ao que se sabe, diariamente, qualquer brasileiro, basta ser cidadão; ter um RG, um cpf, não ter antecedentes criminais específicos de impedimento, ou se os tiver, não ter tido o chamado trânsito em julgado, etc, etc. E então esse cidadão pode se candidatar e ser um administrador público, presidente do país, governador, deputado, senador, prefeito.

Há o registro, por exemplo de um parlamentar (fato de lamentar mesmo) que foi eleito um deputado federal e o sujeito era analfabeto absoluto. Precisou aprender a rabiscar a assinatura para prestar juramento e tomar posse. Estamos a falar de Francisco Everardo Oliveira e Silva, o popular Tiririca (1965-). Ele foi dos mais votados para deputado em 2010 e em 2022 o menos votado para o mesmo cargo pelo PL de São Paulo.

Quando na campanha para deputado por SP em 2010, ele, o Tiririca, seu apelido artístico, porque é também palhaço e humorista, se apresentou com o slogan, “vote em mim porque pior do que está não fica”. O melancólico é que o deputado errou porque o que estava ruim, piorou! E de pior a degradação ainda chegou ao grau de horrível. Nunca na História da República houve cenário tão deplorável como o que estamos a assistir. Que nível atingimos hein!

Bem comparada a Política como Ciência, como um sistema de administração das coisas, dos bens, das relações pessoais e jurídicas, se equivale a muitas outras profissões de alta complexidade. Aquelas de formação universitária. Imaginemos então se a Advocacia, a Engenharia, a Medicina, a Arquitetura pudessem ser exercidas por profissionais sem essa qualificação. A Medicina e Odontologia por charlatões, a Advocacia por rábulas e aventureiros.  

Nesses termos e sem nenhum estranhamento é assim que tem sido exercida a nossa política brasileira. Qualquer cidadão ao se candidatar, se tiver um bom cacife, um bom discurso, e mesmo sem o saber, mas com as estratégias e diretrizes dos sofistas, da filosofia sofista, ramo filosófico grego que se dedicava à arte do convencimento através da fala, das promessas, da persuasão etc. Assim o procedendo, esse candidato reúne grandes chances de vitória, como o assistimos em cada pleito eleitoral.

E para turbinar e alavancar campanhas, os candidatos dispõem de uma poderosa ferramenta, ou ferramentas, a Internet, aplicativos e redes sociais. Nesse contexto, basta criar páginas gratuitas na Internet, dispor de um simples smartphone, contratar um técnico de criações de redes sociais e os efeitos são imediatos. Existem sempre os seguidores, os arrebanhados, os higienizados cerebrais que repicarão as campanhas em efeito dominó. Isto mostra, a que nível de qualificação, ou sem qualificativos políticos chegaram os nossos eleitos. É o brasil, bem descrito por Raymundo Faoro e Buarque de Hollanda.

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