Quando falamos em formação do indivíduo dois são os fatores hereditários determinantes: a genética e sua formação ética familiar. Formação aqui compreendida como os valores abstratos e imateriais da pessoa. A saber: seus costumes, suas crenças, seu cabedal moral; enfim, todos os seus atributos de relações humanas e com o meio ambiente
Assim como a genética determina as características físicas, biológicas e anatômicas do ser humano a herança ética será decisiva no conjunto de valores abstratos do sujeito, ou seja, na sua personalidade e no seu caráter. É o que esse indivíduo será como pessoa e nada vinculado ao seu biótipo e descrição anatômica e biológica (por herança genética).
Quando se refere à formação ética da pessoa, essa aquisição, em se tratando das qualidades morais e de caráter, ela se sobrepõe a herança genética. A formação ou educação ética vai ter influência na estrutura psíquica, nos valores morais e de caráter do sujeito. Todos os estudos de sociologia, de psicologia do comportamento demonstram que o processo educacional (herança ética) se sobrepõe àquela dos genes (herança genética).
Falar em herança ética faz-se necessária uma explicitação conceitual. Ela se fundamenta na trajetória educacional do sujeito. Tudo se origina na tão importante educação de berço ou formação ética familiar. Na chamada educação de berço, a família, sobretudo as ações da mãe e do pai, serão preponderantes. São as primeiras informações sensoriais percebidas pela criança: a fala, as primeiras palavras, o ambiente doméstico, o nome de tudo que circunda a criança em desenvolvimento. Temos aqui a teoria da tábula rasa, da lousa em branco: ao nascer a criança é analfabeta absoluta, ela não tem nenhuma informação, nenhum registro de memória. Ela se tornará ciente pelos sentidos, pelo que lhe for ensinado.
Na formação ética, uma importante escola foi a dos empiristas, composta pela tríade David Hume (1711-1776), John Locke e George Berkeley. Eles foram protagonistas do chamado iluminismo escocês. Para esses pensadores, em termos práticos e compreensíveis, ninguém nasce sabendo alguma coisa. A criança se tornará ciente, consciente e informada e formada, a partir do contato com as pessoas à sua volta: pais, babás, cuidadores, escolas, sociedade, ambiente social de toda natureza.
Em preleção mais simples ainda; o sujeito, a pessoa será o reflexo, o produto, o corolário da família. Pais e cuidadores com baixa formação escolar, com conteúdo ético precário, de sofrível formação ética, social e cultural, tendem, propiciam a que os filhos tenham o mesmo destino. É a família, o meio social, os contatos pessoais, a sociedade como determinantes hereditários éticos na constituição do sujeito. Vamos aqui imaginar um caso social encontradiço aqui, acolá e alhures. Um pai que chega em casa do trabalho e se preocupa apenas com os seus instintos digestórios e etílicos, que tem uma mulher que se revela uma pateta e idiota na educação e tolerância dos filhos. Este pai sempre ausente e incapaz na educação dos filhos, tem na mãe dos filhos uma pessoa inoperante, passiva e tolerante. O que esperar dos filhos desse ambiente doméstico, dessa família? Todos esses filhos têm um alto potencial para dar em nada, como expressa o dito popular. Filhos de peixe não vão se tornar águia nem salmões. Peixes como os pais serão para sempre. É o meio social ou familiar no determinismo do sujeito