Seja bem-vindo(a). Hoje é

ELOGIO e Epitáfio

 Uma referência por demais empregada pelas pessoas nas relações sociais é o elogio. O termo pode-se classificar em graus de intensidade, de intencionalidade, de significados etc. O objetivo da referência é sempre reconhecer, exaltar os atributos, virtudes, qualidades da pessoa elogiada ou até mesmo a um objeto e bem alheio, público ou privado

.

Entretanto, quem emprega essa referência deve-se acautelar no seu emprego. Mal-empregado o elogio pode produzir efeitos contrários à sua intenção. Em certas circunstâncias, e dada a sua intensidade, a maneira como é feito esse elogio, o tom empregado, a referência elogiosa pode assumir um significado de ironia, de hipocrisia, de sarcasmo e até ofensa a quem é dirigido.

Ao empregar um elogio a alguma pessoa é de bom alvitre e sugestão que haja entre os interlocutores (elogiador e elogiado) uma relação de amizade, de confiança ou lealdade. Do contrário, o elogio pode até causar algum embaraço e constrangimento. Uma boa recomendação é a moderação na referência laudatória (louvor) e algum conhecimento da pessoa elogiada, seu temperamento e personalidade. Basta lembrar de outras estratégias da comunicação nas relações humanas que são as figuras da oratória, a saber: a ironia e a hipocrisia. Há que supor, sempre, como será a percepção da outra pessoa. Existe sempre um risco do elogiador(a), a par da intenção de exaltar a pessoa e angariar sua admiração, se tornar uma pessoa ridícula, risível e sem noção do que seja um elogio sincero, construtivo, comparada com palavras vazias, exageradas, sem nexo ou significado com a outra pessoa. Basta ter em conta, se de fato e concreto a pessoa elogiada é detentora dos predicados e atributos a ela conferidos.

Duas outras referências nas relações humanas merecem ser distinguidas e não confundidas com o elogio. O reconhecimento de um mérito por um trabalho prestado e pago; e a gratidão por um trabalho, um favor e ajuda de forma graciosa, cortês, pela simples atitude de cortesia e civilidade. Em resumo: por um trabalho remunerado e uma gentileza pela simples gentileza, sem a contrapartida material.

Nas duas situações é da cultura humana a expressão obrigado (a). significando o que esta resposta? Literalmente seria uma dívida, não? Mas, na prática nenhuma obrigação material ou ônus pela pessoa favorecida. A expressão obrigado (a) se traduz em um reconhecimento do mérito e generosidade do outro. Mais que isto, no compromisso sentimental e moral e civilizacional de agir com a mesma eficácia, ética e generosidade com aquela pessoa prestadora do serviço, do obséquio ou serviço executado. Ou mesmo se mostrar útil e generoso com outras pessoas que dela precisar do mesmo favor ou benefício. Por isso nos ensinou o profeta gentileza: gentileza se paga com gentileza não importa a quem prestar essa gentileza.

Retomando a questão do elogio. Muitos são os elogios que qualquer pessoa percebe o quão mentiroso, descabido e até ridículo e inconveniente pela absoluta inconsistência e falsidade. Da intenção de agradar e engrandecer a outra pessoa, esse elogio pode gerar constrangimento, mal-estar e desprezo ao outro. Com uma conotação até de hipocrisia, sarcasmo ou ironia. Não convém!

Por fim, não custa lembrar a etimologia da palavra elogio. Ela possui a mesma raiz de epitáfio. Aquela inscrição feita nas tumbas e túmulos dos mortos. E o que é um epitáfio? Muitos são falsos e exageros de atributos ao falecido. Quanto mais palavras se faz como referências a uma pessoa, inclusive nos epitáfios, mais riscos de serem falsos e mentirosos. A recomendação é sempre moderação; como o fez Mário Quintana, poeta gaúcho, no desejo de seu epitáfio. Disse ele que queria como epitáfio: “Eu não estou aqui”. Simples, direto, verdadeiro, filosófico.

João Joaquim médico e articulista do Diário da Manhã www.drjoaojoaquim.blogspot.com   jo/bg

Nenhum comentário:

Postar um comentário