Perdoar é silenciar o outro

 Muito se fala nas virtudes e vícios das relações humanas. Exatamente isto. Quando se relaciona com alguém um ou ambos, ou coletivamente apresentará ou apresentarão as chamadas virtudes ou vícios nessa interação. Basta ver que existem casos, situações e casos clínicos psíquicos e sociais, quando então se estabelece a absoluta incompatibilidade de harmonia. Convivência desarmônica e impossível vida em comum! Felizes aqueles e aquelas que chegam a essa circunstância e tenham a capacidade, o discernimento ou convicção de que somos humanos, e como tais, podemos ter essa extrema e acirrada incompatibilidade. Mas, há gente que pensa diferente, que se sente proprietário do outro.

É da incapacidade ou insuficiência de reconhecer as extremas alteridades que surgem os conflitos e animosidades entre as pessoas. É inconcebível e demencial, uma pessoa exigir que a outra de seu convívio seja e proceda igual a ela, conflitante e conflituosa! Uma é da paz e cordata, gentil e generoso; a outra beligerante, animosa, contestadora, alienante.

Na convivência humana, nas relações sociais de toda ordem e por todas as vias. Quantas não são as pessoas que discordantes e se antipatizando com a outra, inicia um força-tarefa de desconstrução dessa outra pessoa, criando dela um perfil e um tipo social falso e fraudulento, antissocial. Pelo simples fato de sua diferença. E vêm então as ofensas, as quizílias, as cizânias, os mal-estares, as fofocas, a difamação, o assédio moral e até sexual. Vêm então os melindres, as sensibilidades, os egos, a menos valia pessoal sentido originária da outra pessoa. E então os estapafúrdios e hediondos casos de feminicídios.

Falemos então do perdão; quando a convivência se faz impossível. Incompatível essa harmoniosa vida em comum. Quando se busca como lidar com o perdão e o que seja o perdão. Afinal, o que é perdoar alguém por ofensas, mal-estares, difamações?  Porque muitas e tantas são as desavenças e antipatias e intolerância que ofensas e agressões pessoais, morais e honorificas vão surgir.

Perdoar é a pessoa estar disposta a não se valer da pena de talião, olho por olho, dente por dente e daqui a pouco muitos cegos e desdentados. Não é assim um gesto civilizatório e de civilidade e cidadania respeitosa. Primeira realidade nesse caso: o esquecimento é impossível. Não se esquece ofensas recebidas. Gesto de civilidade: distanciamento, não vingança. Perdoar é esquecer o instinto de retaliação. Fica daí que eu fico de cá. O planeta comporta bilhões de pessoas. Cada qual no seu lugar! Que belo, não?

Sendo nós humanos dotados de inteligência superior, memória, lembranças: primeiro, ninguém esquece o ocorrido, notadamente quem mais saiu vítima. Solução mais digna e humanizada, um pacto de não vingança com o outro. Silenciar o outro é não querer nenhum mal a esse outro que me molestou, me difamou, me ofendeu, me quis o fracasso, a desconstrução e desmoralização pessoal e de minha dignidade e honra. Esquecer é impossível, mas silenciar o outro, sim. Como se ele não existisse, deleção de meus afetos, respeito, sim! Porque humanos somos e como tais devemos viver no Planeta.

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