Até amor verdadeiro

 Já é bem sabido e ressabido que existem diferentes graus e modalidades de amor. Deste sentimento quase tudo já se escreveu, desde tempos pré Cristo e a partir de Platão. Tipo assim: grosso modo. Amor material e amor abstrato ou genuinamente sentimental. Com essas duas grandes categorias do dito afeto maior, fica mais fácil o entendimento e melhor discernimento. E não venham aqui puristas e altruístas do amor, com dissentimento, em afirmar que essa forma de amor material inexiste. Existe, sim com provas racionais e emocionais como vai se propor aqui.

Vamos, de imediato tomar de empréstimo aqui essa que pode ser considerada a maior glosa (sentença) sobre o amor, depois do maior bardo do Planeta, Willian Shakespeare. Foi proferida essa sentença pelo jornalista, notável cronista social e de costumes e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Disse Nelson: “Dinheiro compra até amor verdadeiro”.  Como foi citado Shakespeare, não é demais rememorar que os seus personagens envolvidos em amor foram semelhantes a terra do nunca (nerverland). Nunca passaram de ficção como foi o amor apaixonante de Romeu e Julieta. Aliás sejamos justos e coerentes. Pelo tempo e como é descrito o amor exalado por esse casal (Romeu e Julieta) descrito por Shakespeare, é até de questionar: quem quereria um amor com essa duração? Desacredita-se que haja alguém, um casal romântico com tal disposição. Imaginar uma paixão (como se uma doença fosse) que dura menos de uma semana, 4 dias. Uma demonstração de que o coração nunca tem razão, porque sua predisposição leva a resultados desastrosos. O coração é uma vala de mistérios.

Tomando então de empréstimo e emblema a sentença de Nelson Rodrigues, do poder do dinheiro de comprar até amor verdadeiro. Explicitamente, quis o nordestino e destinado carioca cravar que o dinheiro pode muita coisa, inclusive comprar essa forma material e objetal de “amor”. Revela-se na certa e com alerta uma definição irônica e antiplatônica de amor, chamemos essa ligação de afeto, quando a pessoa ao expressar que ama, está afetada por um vazio, uma carência, uma necessidade material, substancial e concreta de um bem, um objeto, um recurso que lhe traga segurança, bem-estar, prazer, poder e conforto. Porque já é provado pela Ciência que dinheiro é poder e poder torna as pessoas mais felizes.

De forma concreta e substancial, muitos podem ser os jeitos de adjetivar o chamado amor material. Amor digital, é a declaração de uma pessoa a outra de que a ama pelo fato de estar carecendo de um objeto digital (o faz dissimuladamente, carinhosamente). Se o recebe então, essa agraciada se derrete ao doador pelo mimo recebido. Imagine um smartphone de última geração, um i-Phone, um tablete, um notebook da moda. Gera até amor declarado, verossímil de verdadeiro, fiel e real.

Imagine aquela filha ou irmã, ou neta que aflita e ansiosamente transtornada, traz no recôndito o ardente desejo de ter um carro top 10, um automóvel de mesma iguala ou melhor que as amigas do entorno! Imagine! Natural e convincentemente essa pessoa (interesseira) vai proferir ao pai ou mãe, irmã ou avô o amor, o “eu te amo”,, na cara sem óleo de peroba, deslavada,  o você é uma mãezona, ou paizão! Imagine.

 É a forma mais legítima e representativa do quanto o dinheiro, o poder aquisitivo, de um abastado ou rico parente é capaz de aflorar no outro esse amor, com cara e expressão de amor verdadeiro. Verdadeiro! Imagine. E os ingênuos por ali no entorno. Hum você, ah, eh, você sabe, eu te admiro, eu te amo..... hummmm. Portanto, nestas breves considerações fica essa constatação. Basta ter memória dos fatos, das cenas presenciadas, nas variadas relações parentais, conjugais, uniões estáveis ou namoradas. Do quanto há de juras e “perjúrios de “amor verdadeiro” inspirado na material, no cabedal e poder monetário, do alvo de tantas declarações e declamações de amor. “Eu Te amo”.  Hum, sei.

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