Variegados amores

 

O quanto são hipócritas certas expressões que nos afetam. Afeto e amor. Eis aqui a temática dessa amorosa digressão. Quantas vezes alguém já ouviu a expressão “eu te amo”, que basta o senhor da razão, o tempo, e este então desvendar aquela mentira na boca dessa pessoa que nos fez essa confissão de forma pérfida e mentirosa. Esta aqui, sim, é uma expressão veraz e pura. E não venha quem um dia proferiu essa mentira se justificar, com aquele princípio de que existem verdades temporárias. E esta afirmação é também verdadeira, porque de fato, basta imaginar o preço do dólar, cada dia ele expressa uma verdade. Todavia, não é demais lembrar das exceções à regra; neste caso o Amor é uma dessas excepcionalidades. Eterno amor.

Mas, afinal como se pode definir o amor? Tarefa fácil, porque ele comporta um sem-número de conceitos, e todos sem preconceito. Porque ao termo e cabo ele acaba resvalando para o mesmo desiderato, a união, o elo, o link, o amálgama, a liga, o convênio e mútuo apego de uma pessoa a outra. Quando se ama de verdade, e não de forma temporária, fica a certeza que aquelas duas pessoas são como dois gêmeos siameses ligadas por um só coração e duas almas igualmente gêmeas. Olha o quanto de beleza, ternura, segurança, vida e gratuidade nesse convívio.

Existem, e isto é a mais legitima verdade, diferentes nuances ou naturezas de amor. De modo objetivo, pode-se dividir o amor em dois grandes grupos para fácil entendimento. O amor material e o amor pessoal.

 É natural que tenhamos “amor” a bens e objetos, um patrimônio, um apetrecho pessoal, moderno ou retrógrado, o resultado de trabalho artesanal ou artístico. Nestes termos o melhor exemplo são o amor às joias, a uma roupa preferida, a um par de botas antigas, a um anel, a um cordão de ouro ou prata, a uma bijuteria, a um relógio, a uma bicicleta, a um carro. Ah, como existem gentes com esse amor. Às vezes, maior que o amor devotado a um cônjuge, a um filho.

Fazendo aqui um trampolim, por falta de espaço porque o tempo dá.

Falemos agora do amor pessoal, do amor que uma pessoa devota à outra. De novo, dois grandes grupos para melhor clareza e aceitação. Existem nas ditas relações “amorosas” das pessoas, o amor falso e o Amor Verdadeiro. Entram então nos ditos amores falsos a useira e vezeira expressão “eu te amo”. Atentem bem os leitores (as) que muitos são os ditos amantes e namorados (genéricos e de marcas) que prolatam, ditam, ou como se diz no popular falam pelos cotovelos a useira expressão “eu te amo”. Entretanto, se levado a uma psicanálise, esse locutor, com sua loquela e declaração não passa de um falsário, de um dissimulado e fogo-fátuo do falso amor. Quer exemplos contundentes e convincentes desses tais? Os assediadores morais de seus cônjuges (homens ou mulheres), os feminicidas. Como se deu o embrião dessa agressão? A confissão falsa do “eu te amo”, que depois, passa a fase da cama, leva ao desencanto, ódio, intolerância, crime.

Nas relações humanas, pode-se ainda discorrer sobre o amor paternal ou maternal, em grande parte prevalece o amor verdadeiro. Daí ser veraz, real, a expressão eu te amo. Nessa declaração fica bem nítida a autenticidade na mímica, nos gestos, no cuidado, nas atitudes e zelo com que um pai ou mãe trata as suas crias, os filhos e filhas. Entretanto, existem relações de pai/filho e filho/pai, que elas se fazem por estrita obrigação genética, uma forma de coerção moral pode reger essa relação.  Pode não se ver ostensivamente agressão, mas não há também amor. Apenas respeito. E não raro, onde deveria existir amor, casos existem de ódio e rancor entre esses parentais.  Expressos e confessos.  Basta o modelo dos pais que dão pensão alimentícia a filhos por coerção judicial.

Por último duas ou mais palavras sobre duas formas de relação filial ou vice-versa. Tanto pode ser o afeto (a afetação) de pai para filho ou filho para pai ou mãe. Do filho para o pai/mãe: quantos são os filhos e filhas que amam os seus pais de forma espontânea, originária, generosa, com gratidão pelo simples reconhecimento e retorno do vínculo genético. Amor verdadeiro, independentemente da condição sociocultural, patrimonial e profissional ou moral desse genitor (a). Trata-se aqui da mais legítima realidade, verdade real, porque demonstrada por estudos e ensaios de Psicologia Familiar e Sociologia.  

Entretanto, tomemos esse provérbio: “um pai é por 10 filhos, mas 10 filhos não é para um pai”. Está aqui a entrar no estudo do quanto muitos filhos cuidam do pai, não por amor. Porque o próprio adjetivo o qualifica, um falso amor. Não existe amor, e sim um “cuidado moral coercitivo”. Ora, é bem explícito, useiro e vezeiro esse tipo de relação filial, de filho para pai. Tem-se lá aquela mãe ou pai, que na senilidade, na decrepitude, muitos inválidos, doentes crônicos e estritos dependentes de alimentação, higiene, companhia e medicação. Quantos são os filhos e filhas que fazem essas tarefas do zelo, higiene e cuidados por amor puro e sincero? Esparsos e excetos exemplos. Porque a maioria, o faz por uma coerção social e obrigação moral.

E ultimando essa digressão sobre algumas formas de amor, que por vezes não é amor, mas uma relação social familiar interesseira dissimulada.  Nelson Rodrigues (1912-1980) cravou esta: O dinheiro compra até amor verdadeiro”. Falou tudo e mais alguma coisa sobre muitas dessas relações falso amorosas filiais. Imagine aquele filho ou filha, que resultado de uma educação familiar de teatro mambembe e tipo júpiter recebeu todos os mimos, privilégios e imunidade para a satisfação de todos os desejos objetais e materiais e monetários. Ora, é natural que “eu te amo” ressoará vindo da faringe e se acreditará como verossímil e real.  Mas, é aí que se estabelece esse amor objetal e de pecúnias. Quem se oporá? Como fazem efeitos os brincos, os mimos e dádivas, os i-Phones e smarts de última geração. Criação, educação. Autos dos bons, appeals, domos bem com os melhores decoros, trastes de últimas! Hum, que felicitas! Arre! Vade retroativo amor, amor, amo, te amo, amore Ragazzo inamoratto! O amor é a única resposta sã e satisfatória ao problema da existência humana. Erich Fromm.

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